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Iron Biker 2004

O desafio das montanhas

Antes de escrever esta matéria, recebemos alguns e-mails de pilotos que ficaram desapontados com o Iron Biker. Amargas críticas à organização principalmente ao Gilberto Canaã. Então imaginamos como escrevê-la, pois sempre fomos a favor do nosso esporte no país e não poderiamos deixar de falar bem deste evento. Principalmente desta, que é uma das melhores competições do mundo. Já presenciamos campeonatos mundiais, mas nada igual ao IB.

Uma grande diferença do Iron Biker deste ano para as edições anteriores é que o percurso do primeiro dia era igual ao do segundo, ficando apenas nos arredores de Mariana. Nas outras edições o trajeto era de Ouro Preto até Belo Horizonte.

1º dia - Sábado, 25 de setembro

A cidade de Mariana, primeira capital mineira, foi o cenário de mais uma edição do Iron Biker - O desafio das Montanhas. A largada foi na Praça da Sé, um lugar muito bonito e importante. Durante os três primeiros quilometros os participantes passavam por ruas históricas , onde tinham que encarar uma subida, até chegar no habitat natural das bikes. A galera "pró" já se distanciava dos demais.

Quando entraram na trilha de verdade, já podiam ter uma noção do que seria o IB 2004. Havia uma grande subida, aproximadamente 8km chegando a uma altitude de 1000m. Quem estava lá podia ouvir a "sinfonia" das correntes, catracas e coroas.Era só o começo.


Definir as posições dos pilotos em uma competição como esta é uma missão impossível. Todo trajeto é cheio de surpresas, podemos dizer que é um vestibular do mountain bike, no qual o aluno - biker - deve estar preparado em todas as disciplinas: single-tracks, cascalho, raízes, pedras, estradões, up hill, downhill. Haviam também vários riachos, uns davam para passar pedalando e outros carregando as bikes. O piloto está sujeito a tudo! Participar do Iron é uma coisa inexplicável.


No ponto de apoio todos esperavam os pilotos. Quando o batedor - motoqueiro - surge em cena com o primeiro colocado, já começava a gritaria e o corre-corre. Uma festa! No sábado uma figura desconhecida surgiu com Albert Morgen. Era Rubinho de MG. Muitos não sabiam quem era aquele competidor, mas ele está sendo uma das grandes revelações do MTB nacional. Mais tarde Rubinho teve o azar de ter seu pneu furado, deixando Albert assumir a liderança até a concluir o 1º dia de competição.

Neste dia as categorias: C, D, E, G, P, e Q acabavam no km 43. Exatamente no ponto de apoio. Enquanto a F, nos 30km. As demais seguiam em frente até completar os 73km.

No feminino, nossa querida Jaqueline Mourão recebeu uma pequena pressão no começo da prova de sua amiga e principal rival, a italiana Sandra Klomp. Ao passar no ponto de apoio a galera delirou com sua liderança disparada. Somente um tempo depois passou a italiana. Uma pequenina garota também passou minutos depois e chamou a atenção de todos. Era Mariana Pontes Marques com a placa 62. Mais uma vez BH se destacando com talentos ainda não conhecidos. A mulherada estava pedalando muito. Os resultados neste dia surpreenderam a todos. Grandes nomes como Erika Gramiscelli e Juliana Machado - que se perderam por falta de marcação - ficaram para trás.

Essa falta de marcação no final do percurso deu muito problema no primeiro dia. Custou caro para os pilotos. Muitos deles chegaram a pedalar 20km a mais. Pronto! Estava formada a confusão. Piloto quebrando placa de numeração, dizendo que não iriam participar mais. Outros revoltados porque tinham recebido informações erradas quanto à chegada na cidade. Ciclista perdido na mata. Outros que só chegaram à noite e nem tinham a informação de onde era a chegada, pois ela já tinha sido removida. Muito bate-boca.

2º dia - Domingo, 26 de setembro

O grande dia! Acho que a grande expectativa e a mega atração principal do Iron Biker 2004 foi a "Rede Grobu". E não os mil e tantos pilotos inscritos, apesar dos R$180,00. A largada que estava marcada às 9:30hs da manhã acabou atrasando. Tivemos que esperar o sinal principal da emissora, aquelas propagandas: mulheres bonitas bebendo cerveja, os bancos milionários, os carros de luxo e o refrigerante mais famoso do mundo.

Coitados dos meus pais que estavam em casa assistindo. A largada foi tão rápida que se eles tivessem ido beber uma água na cozinha teriam perdido. Que saudade da nossa querida ruiva, Renata Falzoni e toda galera da ESPN. Esse ano quem quiser ver ou assistir algo sobre a competição terá que comprar o DVD. Que chique! Espero que eu apareça nele!

Após a largada, no mesmo local, novamente se chegava na grande subida de 8km. Dessa vez, haviam dois desvios: um no km 11 para categoria F que só precisava concluir 34km e outro para as categorias C, D, E, G, P e Q, que teriam as suas conclusões com 49km. Os demais teriam que completar neste dia 69 km.

O trajeto de domingo foi "mais light" para os competidores. Somente duas subidas relativamente altas no começo. O restante eram trilhas planas em locais extraordinários. Por isso, Minas Gerais é o estado do Mountain Bike. O ponto de apoio era no mesmo local, mas o trecho foi reduzido de 43km do primeiro dia para 34km. Desta forma o pelotão da elite passou bonito. Os principais pilotos do cenário brasileiro estavam presentes. Naquele momento ninguém poderia arriscar dizer quem ganharia. Eles passaram numa velocidade que o apoio da equipe Amazonas ficou com todas as caramanholas de reposição.

A disputa pegou fogo, ninguém queria perder as primeiras colocações. Os pilotos do pelotão de elite ficaram grudados até que Márcio Ravelli teve o pneu furado, deixando escapar o que poderia ser o seu 4º título. Os demais apertaram o ritmo tentando eliminar qualquer um que estava naquele pelotão. Edivando Cruz, Abraão Azevedo e Albert Morgen assumiram a ponta. Edvando aumentou o ritmo e colocou 2 min na frente dos dois. Ele precisava de tempo para ganhar de Albert que vinha a todo vapor com Abraão fazendo um trabalho de equipe. Não deu outra. Edvando chegou em primeiro, mas teria que esperar e rezar para que Albert chegasse com 3 min depois. Não deu! Ele chegou com dois de diferença junto com o seu companheiro.

Albert Morgen se consagrou tri-campeão do IB, igualando a marca de Márcio Ravelli.

Já no feminino Jaqueline Mourão se consagrou penta-campeã do IB. A italiana Sandra Klomp ficou na segunda colocação. Mas a grande surpresa ficou com a terceira colocada na premiação geral, aquela do dia anterior, Mariana Marques.


- As outras categorias

Quando vi as crianças passando, pensei que fosse a galera da elite. Uma vitalidade que somente a comidinha da mamãe sabe. Foi muito legal vê-las com os "paitrocínios curujas": o pai cuidando da bike e a mãe com o filho; só faltava por no colo e dar mamadeira, perdão, a caramanholha. Se seguirmos assim, o futuro do nosso ciclismo está garantido por muitos anos. Só temos que dar mais valor e apoio.


Os dois lados: as equipes e as tandens (bikes para duas pessoas); aquilo sim era trabalho em grupo. Um ajudando o outro. Pilotar uma tandem não é para qualquer um. Os atletas tinham que pedalar sempre juntos. Era um trabalho feito por três. A marcação no PC era rigorosa. Se um tivesse problemas, os outros dois teriam que parar.

Os senhores do pedal. Havia muito vovô chegando na frente da juventude. Nestas horas temos que tirar o capacete para todos os presentes. Que isso sirva de lição para aqueles que pensam em parar de pedalar.


Ponto de Apoio

Tudo é festa quando se fala em Iron Biker, principalmente o ponto de apoio. Quando é dada a largada, as caravanas seguem direto para o local. Muitas delas nem chegam a ver a largada. Como no ano passado, este ano o P.A. foi novamente na pacata Vila Samarco. Uma cidade que fica a 20 minutos de carro de Mariana.

Chegando lá já dava para ver toda galera posicionando-se no melhor lugar: as sombras. Outros em pontos estratégicos ou aqueles que ficam distante do aglomerado. Temos de tudo no P.A.: técnicos, mecânicos, médicos, fãs e os curiosos. Sem falar nas esposas, namoradas, filhos, familiares, gato, cachorro e papagaio. Esses sim são o verdadeiro apoio, aqueles que dão toda força quando seu herói chega exausto e sujo. Neste momento surge uma das cenas mais bonitas de serem presenciadas: a galera do "pit stop" com água, frutas, lubrificante na corrente, uma massagem rápida nas pernas, água nas costas e um beijinho por parte das mulheres. Além da foto histórica é claro. Isso que é legal, você poder presenciar este espírito esportivo. Não há palavras.

Cada piloto tem sua estrutura. Simples ou não, ele tem alguém para ajudar. A que chamava mais atenção era a equipe dos Coroas do Cerrado de Brasilia, com uma estrutura extraordinária. Cada ano que passa a equipe cresce. Não é formada por grandes nomes do cenário nacional, mas sim por pessoas que amam e respeitam o esporte. Pensaram que eles não teriam pódio ? tiveram sim! Por falar em Brasilia, que galera era aquela nas entregas das premiações? Brasília em peso em Mariana! Várias premiações. Estão de parabéns! Lógico que não posso menosprezar os outros representantes dos estados presentes. Voltando ao P.A., diversas pessoas o criticaram, pois o espaço para os pilotos passarem ficou muito estreito, causando várias colisões - nenhuma grave.

O amor pela bike

Entre 100 pilotos que competem no IB, 80 tem como objetivo completar de qualquer maneira os dois dias de pedal, tudo para conquistar a tão medalha de participação. A conquista desta gloriosa medalha significa uma longa trajetória para estes verdadeiros competidores. Desde o início de sua preparação, como aqueles que acordam cedo para treinar e chegam atrasados no trabalho, os que deixam de sair com sua família no final de semana, os que economizam dinheiro durante todo ano até chegar o mês da competição e até mesmo os que nem têm dinheiro para comprar uns equipamentos novos para por na bike porque a inscrição é caríssima.

Dentre os ricos, pobres, solteiros e futuros desquitados - isso serve também às senhoritas - o maior orgulho é chegar no final do segundo dia de competição, receber aquela última garrafinha de água quente, os comprimentos dos fiscais e seguir seus últimos metros de conclusão, subir no palco e receber das belas meninas - coitadas das senhoritas - a preciosa medalha!

Para quem não viu...

No primeiro dia no P.A. um biker surge chamando a atenção de todos. O astro não era ele e sim seu filhinho de dois anos que estava nas suas costas com um capacete.

Ciclista Guerreiro: Fernando Silva de Indaial-SC concluiu os dois dias com sua bike de freeride, uma Giant AC com pneus 2.35 com uma suspensão 125mm na frente e 6" atrás.

As "garotinhas" da equipe 4.0 Turbo. Pra quem não sabe, elas são aquelas belas mulheres super em forma e muito experientes, com quem todos gostariam de pedalar ou tentar acompanhar numa trilha. Tiveram pódio.

Solidariedade de dois pilotos um ao outro que tinha quebrado o câmbio e a corrente. Ele foi rebocado por muitos quilômetros até a chegada. Para quebrar a rotina, a galera da equipe No Dab Trial de BH fez uma apresentação exclusiva e simbólica para www.pedal.com.br e todos que estavam presentes na Praça da Sé no domingo, logo após as premiações.

Pensaram que eu iria esquecer! Os deficientes físicos estavam presentes na categoria especial. Isso que é uma verdadeira lição de vida. Um dos momentos mais ilustres foi quando Joaquim da Silva Sousa com a placa 1232 chegou no domingo. Cansado e sem uma das pernas ele recebeu aplausos calorosos desde o momento que subiu no pódio para receber a sua medalha merecidíssima até descer. Atenção Coroas do Cerrado! Ofereçam um apoio a Joaquim, o biker é daí. Realmente o IB teve muitos defeitos, mas como é que eu posso criticá-lo com uma imagem desta ?

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