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Treino de speed é bom para mountain biking e vice-versa?

A fisiologia do ciclismo em prol do mountain biking

O Pedal solicitou ao nosso colunista e treinador, Hugo Prado Neto, que falasse sobre um assunto que todos os ciclistas e mountain bikers debatem constantemente: uso da bike de speed para treinos de MTB.

Mas o mestre Hugo se superou mais uma vez. Ele elaborou um artigo – digno de "enciclopédia" – relacionando não só o uso da primeira opção, mas o oposto: MTB para treinos de Speed.

Com uma explicação, simples, dinâmica e descontraída, Hugo mostra porque é considerado um dos maiores treinadores de bicicletas do país. Confiram:

“Os atletas de MTB me perguntam: é interessante ter uma bicicleta de “speed” para eu treinar? Na verdade os ciclistas nunca me perguntam o oposto, mas também para o ciclista é interessante efetuar treinos de MTB? Do ponto de vista da fisiologia do exercício, a resposta para as duas perguntas é um afirmativo SIM. Existe ainda o fator psicológico que também conta muito na hora: dar uma mudada de ares.

:: Treinos de Speed para o Mountain Bike

Vamos começar pelo uso do ciclismo (bike de speed) a favor do mountain bike. A base como todos devem saber é o primeiro componente de um treinamento metódico e bem feito. Esta fase envolve uma intensidade baixa para estimular o uso da gordura como primeira fonte de energia (isso ensina o corpo a economizar glicogênio), com um volume alto para estimular as células e enzimas responsáveis pelo sistema aeróbico. É muito mais correto efetuar a maioria dos treinos de base em outras fases na bike de speed, porquê:

1 - O estímulo aeróbico é bem maior uma vez que, o treino na speed o ritmo é constante e melhor para monitorar – o pedal sai redondo. Se você treina de MTB, a cadência, a velocidade e a potência não serão constantes. É claro que por questões financeiras o atleta pode “tunar” sua MTB para ser utilizada no asfalto. Melhora sim, mas não substitui totalmente pela bike de speed. Tendo falado isso, na fase de base é importante que o atleta ande pelo menos 2 vezes por semana em sua MTB, considerando que um treinamento deve conter no mínimo 4 dias de treinos por semana.

2 - Vários intervalos específicos devem ser efetuados na speed para ter uma maior repetibilidade e também para que o atleta não desfoque dos intervalos por causa de pedras, obstáculos que exigem técnica e terreno variado de MTB; o que obviamente vai atrapalhar por completo o objetivo específico de cada intervalo.

3 - O medidor de potência é a melhor ferramenta para um treinamento ideal, mas seu alto custo impede até mesmo os atletas – com condições – de terem um desses na speed e na MTB. Eu, por exemplo, só tenho na minha speed e TODOS os meus intervalos específicos são feitos na bike de speed. Divido meus treinos em 50% de ciclismo e 50% de MTB.

4 - Por fim, porque vocês acham que um atleta especialista em provas de maratona não tende a ir bem nas provas de XC? Na minha opinião, o principal culpado se chama sistema neuromuscular. Os atletas de maratona tendem a girar mais e manter um ritmo constante, assim o sistema neuromuscular desses bikers foram ensinados durante anos a manter uma velocidade de perna alta (cadência), sem alterar muito o ritmo de pedal, igual acontece nas provas de XC. Torna-se evidente que o treinamento com uma bike de ciclismo na estrada vai ajudar muito esses atletas ou os iniciantes que querem andar bem de maratona.

:: E os ciclistas? O que eles ganham nessa troca?

Quem acha que ciclismo não exige técnica e habilidade sobre duas rodas esta ligeiramente enganado. Lance já nos provou isso no Tour uma vez lembram? Aquela cena foi clássica e histórica. O mountain bike pode ajudar os ciclistas a evoluirem no ciclismo nas seguintes hipóteses:

1 - Como comentando o uso esporádico de uma mountain bike para um ciclista pode ajudá-lo a adquirir técnica, fazendo com que esse atleta tenha mais sucesso. Podendo evitar colisões desviando corretamente de carros em treinamentos e caminhoneiros que insistem em manter a ignorância de não nos respeitar, e simples obstáculos como um buraco ou um “bump” em uma estrada.

2 - Além da técnica, o ciclista pode também ter uma MTB para aliviar um pouco mais os impactos diários dos treinos de ciclismo. Um ciclista acima de 50 anos com hérnia de disco, por exemplo, por mais que tenha a melhor bicicleta de speed, vai encontrar em uma boa mountain bike maior conforto e alívio para as suas costas e seu corpo em geral.

3 - O mountain bike para o ciclista pode também ajudá-lo a trabalhar alguns membros superiores com mais afinco, ajudando o mesmo a obter um melhor equilíbrio muscular.

4 - Na OFF SEASON, fase da periodização, caracterizada por um descanso ativo através de outras atividades físicas, o ciclista pode encontrar no mountain bike uma segunda alternativa para se manter ativo depois de uma cansativa temporada na magrela, fazendo assim uma manutenção da forma física junto a natureza, envolvendo outro esporte de pedalar.

5 - Por fim, parece bobagem, mas o mountain bike é uma atividade longe de grandes cidades urbanas que são bastante poluídas. Dizem que morar na poluição da grande São Paulo equivale a um ser humano fumar dois cigarros por dia. Como tenho certeza que todos nos temos NOJO dessa droga, praticar o mountain bike pode dar uma aliviada até nos seus pulmões.

Bom, se você pedala mountain bike ou ciclismo já está de bom tamanho, mas espero que essa artigo abra ainda mais o horizonte de todos vocês sobre os benefícios dos dois esportes em prol do outro. Boa sorte aos ciclistas e mountain bikers, acho que deu para perceber que somos de um só planeta: o planeta da saúde, do esporte, do desafio, da conquista e da disciplina em cima de 2 rodas! Viva nosso esporte, longe de nós Ronaldinho!

Autor

Hugo Prado Neto

Treinador


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