Apresentada para o público há cerca de um ano, a linha Hardcore, da Sense Bike, tem uma proposta pouco comum no mercado nacional: com dois modelos sem suspensão traseira, mas com geometria para trilhas mais desafiadoras e garfos de longo curso, a Sense Hardcore Comp R e a Sense Hardcore Comp são duas legítimas “Hardcore Hardtails”, indicadas para quem quer andar de enduro ou all-mountain mas não quer, ou não pode, arcar com os custos extras de uma full-suspension.
Há alguns meses, você conferiu este teste do Pedal.com.br com a Sense Hardcore Comp R, modelo mais avançado da linha, que hoje tem preço sugerido de R$14.990,00. Na ocasião, concluímos que trata-se de excelente porta de entrada para as modalidades extremas, devido ao seu baixo custo, que atende a um nicho de quem quer uma bike robusta, simples e direta ao ponto
Porém, abaixo dela, a Sense oferece também a Hardcore Comp, modelo que aposta no mesmo quadro e um pacote de componentes mais simples para chegar no preço sugerido de R$10.990,00.
No teste à seguir, que é um pouco diferente das avaliações normais do Pedal.com.br, você vai conferir todos os detalhes da Sense Hardcore Comp, e também quais alterações você pode (ou deve) fazer para transformá-la em uma endureira realmente capaz.
Índice
Primeiras Impressões
Assim como boa parte das bikes da Sense, o acabamento preto e prata da Hardcore Comp é bem sóbrio, o que para nós é um ponto positivo. Na parte dos grafismos, a simetria e a colocação dos adesivos agradou - acredite, algumas bikes são extremamente tortas neste quesito.
As soldas da caixa de direção e da ligação do tubo superior com o do selim são acabadas com algum tipo de preenchimento, deixando o visual bem bonito. Por outro lado, as da parte inferior da bike, como as do movimento central, são menos refinadas - mesmo assim, elas são bem feitas, não tendo apenas o acabamento liso.
No nosso quadro, com tamanho M, o tubo superior e o seat-tube ficam alinhados, criando uma linha reta que vai de cabo a rabo da bicicleta, algo que nosso testador de bikes realmente gosta de ver, mas que pode não agradar a todos. O tubo do selim com passagem interna para o dropper possui um reforço acima do top tube e, depois dele, uma extensão cerca de 5.5cm. Atualmente, muitas Hardcore Hardtails dispensam parte desta estrutura, criando um tubo do selim mais baixo, com espaço para canotes retráteis com mais curso.
Além deste reforço, o quadro parece ser bem robusto, contando com uma ponte entre os dois seat-stays com o logo HC e seus abridores de tampa de garrafa no seat-stays, que ganharam bastante destaque no lançamento da bike.
Além disso, as aberturas para o cabeamento interno possuem tampas com parafusos que facilitam a instalação dos conduites do câmbio e do canote, e também da mangueira do freio traseiro.
No geral, o visual e o acabamento do quadro agradaram, mas existem dois pontos “negativos” que devemos citar: o cabeamento interno e a montagem do freio traseiro por dentro do triângulo. Certamente duas decisões que fazem sentido do ponto de vista do mercado brasileiro de bikes, que teria dificuldades em aceitar uma bike sem estes recursos pela questão visual, mas que não necessariamente são ideais para este tipo de bicicleta.
No caso do cabeamento interno, apesar da bicicleta ficar mais bonita, você perde um pouco da praticidade e da simplicidade de trocar as peças da bike, dois fatores importantes em uma Hardcore Hardtail. Já no caso do freio, o problema acontece por conta das pequenas dimensões do triângulo traseiro, que pode limitar o tamanho do disco do freio, e também dificulta o acesso fácil aos parafusos - é por isso que boa parte das bikes desta categoria possuem freios montados no seat-stay, e não no chain-stay.
Um detalhe que agradou demais foi o enorme espaço que ela tem para pneus traseiros grandes, algo fundamental para bikes desta categoria. Durante a avaliação, colocamos um pneu 2.6 e ele entrou com bastante folga. Olhando, talvez até um 2.8 caiba no triângulo traseiro da Hardcore, mas infelizmente não encontramos um para testar.
Ficha Técnica
Quadro: Hardtail Em Alumínio Com Geometria All Mountain
Suspensão: Rock Shox Silver Tk 140mm
Caixa: Neco Integrated 1.1/8 1.5"
Guidão: Sentec 780x35mm, Back Sweep 6° Rise 20mm
Mesa: Sentec 40mm
Manoplas: Sense Trail C/ Lock
Trocador: Shimano Deore 5100 11v
Freio Dianteiro: Manete Shimano Bl-mt401, Caliper Br-mt410 2 Pistões
Freio Traseiro: Manete Shimano Bl-mt401, Caliper Br-mt410 2 Pistões
Câmbio Traseiro: Shimano Deore Rd-m5100 11v
Pedivela: Shimano Deore Fc-mt500-1, 11v, A70mm, 32t
Corrente: Shimano Deore Cn-hg601-11
Cassete: Shimano Deore Cs-m5100-11
Canote: Sentec Retrátil 31.6mmx440/125mm
Blocagem: Seat Clamp Al6061 Anodized Black 36.4mm
Selim: Fizik Alpaca Terra X5 145mm
Central: Bsa Shimano
Roda Dianteira: Sentec 29" Tubeless Ready 30mm 32 Furos, Cubo Shimano Hb-mt400-b 110x15mm
Roda Traseira: Sentec 29" Disc Tubeless Ready 30mm 32 Furos, Cubo Shimano Hb-mt400-b 148x12mm
Pneu: 29x2.35 Michelin Force Am
Câmara De Ar: Chaoyang, 29x2.1/2.50
Disco Dianteiro: Shimano Sm-rt54 180mm
Disco Traseiro: Shimano 160mm Quadros S E M / 180mm Quadros L E Xl
Preço Sugerido: R$10.990,00
Componentes
Falando em componentes, o grupo Shimano Deore 1x11 merece destaque, assim como os simples e eficientes freios MT401 do fabricante japonês. O ponto baixo fica para a suspensão dianteira RockShox 35 Silver R, que utiliza mola de aço sem controle de pré-carga e damper TK com controle de retorno, o mais básico da RockShox.
O canote dropper Sentec funcionou muito bem durante o teste e sua instalação foi simples. Infelizmente, a alavanca dele é super básica, feita de plástico, com uma ergonomia que não agradou, mas que funcionou bem ao longo do teste.
O cockpit da bike conta com um guidão Sentec de 35mm com 780mm de largura e rise de 20mm. A mesa de 40mm tem um bom comprimento, mas sentimos que, em sua posição correta, ela joga o guidão muito para baixo, por isso usamos ela ao contrario - gostaríamos mais de uma mesa convencional, até mesmo para poder virar ela para cima e para baixo sem deixar o visual da bike estranho.
Fechando o pacote, temos que citar o selim Fizik Alpaca Terra X5 de 145mm, um dos modelos mais confortáveis que já utilizamos. Apesar de ser uma questão pessoal, trata-se de um modelo que nos ofereceu muito conforto, mesmo nas pedaladas mais longas.
Geometria
Com o quadro no tamanho M tendo 420mm de alcance e o L ficando na casa dos 451mm, a Hardcore não é uma bike extremamente longa, ainda mais comparado com outros modelos desta categoria como a Marin El Roy, que chega a ter 510mm de reach. O mesmo vale para a caixa com 65 graus, que é bastante agressiva mas ainda está “no meio do caminho” quando falamos em hardtails mais extremas - algumas chegam a ter caixas com 62 graus de inclinação.
Mas, nem de longe isso é um ponto negativo. A bem da verdade, a geometria não super agressiva da Hardcore é justamente sua maior força. Isso porque, com ela, a bike pode navegar com tranquilidade entre os mundos do Enduro, trail e downcountry, principalmente com algumas alterações - é uma bike para quem gosta de “brincar de Lego”.
Como nossa ideia era testar a versatilidade da bicicleta, optamos pelo tamanho M (nosso piloto de testes tem 1.75 metros). Caso a ideia fosse usar a Hardcore Comp exclusivamente em rolês de enduro, em trilhas mais desafiadoras e com grandes inclinações, o tamanho L seria uma opção mais adequada, não só por conta do maior alcance, mas também pelo stack mais alto (634mm x 637mm) - inclusive, gostariamos de uma frente mais alta na Hardcore Comp, mas isso pode ser resolvido com um guidão com mais rise.
Outro detalhe que agradou foi o pequeno comprimento da rabeira, que tem apenas 430mm de chain-stays em todos os seus tamanhos. Isso ajuda a mantar a bike sempre ágil nas trocas de direção, além de facilitar a vida do piloto na hora de levantar a roda dianteira.
Algo que sentimos falta foi de um central um pouco mais baixo. O modelo testado tem cerca de 40mm de BB-Drop, número que coloca o piloto “em cima” da bicicleta, e não “dentro” dela como em bikes com central mais baixo - o central mais alto também aumenta a transferência de peso para frente nos inclinados.
Pesos
Apesar de ser um enduro / all-mountain, o quadro da Sense Hardcore não pesa muito mais do que os de outros modelos da Sense. Para se ter ideia, sua massa fica na casa dos 2.100g, enquanto um Impact Facotry 2020, por exemplo, pesa 1.938g.
A massa do quadro foi aferida com o freio traseiro, que já pesados ao redor de 290g, e conduíte do câmbio, que pesa cerca de 60g.
Confirma mais detalhes abaixo:
Garfo: 2.827g
Quadro (com freio traseiro e conduite): 2426g
Roda dianteira com disco: 1266g
Roda traseira com disco: 2031g
Pneu: 645g
Tampa da caixa com parafuso: 18g
Abraçadeira do canote: 29g
Guia de corrente: 27g
Caixa de direção: 76g
Corrente: 266g
Central: 90g
Chave embutida do eixo traseiro: 24g
Eixo traseiro: 41g
Mesa: 133g
Manoplas: 114g
Freio dianteiro: 268g
Trocador com cabo: 134g
Câmbio traseiro: 360g
Selim: 231g
Canote com cabo e conduite: 770g
Pedivela: 861g
Guidão: 374g
Total divulgado: 14.3Kg
Total aferido: 14.6Kg
O Teste
Para avaliar a Hardcore Comp, ficamos com a bike por cerca de dois meses. Neles, testamos a bicicleta nas trilhas da Serra do Japi, na Serra da Cantareira e também no Mobai Bike Land, os locais mais adequados próximos a capital Paulista. Além disso, avaliamos a bicicleta em diversas configurações.
No primeiro pedal, a ideia foi conhecer a Hardcore em sua configuração 100% original, inclusive sem conversão tubeless. Depois, passamos a bike para a montagem sem câmara e, em um terceiro momento, fizemos algumas alterações na suspensão, trocamos os dois pneus* e instalamos um protetor de aro na roda traseira - confira no final do texto o valor e a ordem de importância das alterações.
Por fim, aproveitando os últimos dias que ficamos com ela, juntamos algumas peças e montamos a Hardcore na versão Pump-Track, algo que foge totalmente da ideia do teste, mas que definitivamente prova a enorme versatilidade desta bicicleta.
Para quem ficou curioso com o resultado, basta dizer que, apesar do tamanho avantajado, ela é uma delícia na pista. É um rolê bem suave, com saltos, curvas e tortos bem tranquilos - se fosse um skate ou uma prancha, ela seria um long board.
*O pneu dianteiro substituto estava montado em uma roda mais avançada, mas com os mesmos 30mm de largura interna de aro, fator mais relevante no comportamento do pneu.
Descendo
A Sense Hardcore Comp foi feita para descer e, mesmo em sua configuração 100% original, ela é capaz de fazer isso com competência. Porém, montada com câmaras, rapidamente a alta pressão nos pneus e o enorme risco de sofrer um furo colocam um limite no desempenho da bike - até mesmo por isso, consideramos a alteração para tubeless obrigatória, e isso vale para qualquer mountain bike.
Com o tubeless, a confiança em atacar a trilha cresce exponencialmente, e é ai que a Hardcore começa a brilhar. Nas curvas de estradão de alta velocidade, ela tem um comportamento levemente sub-esterçante, que funciona melhor com a técnica de girar o quadril e apontar os joelhos para dentro, provocando a bicicleta. Mesmo assim, ela se sai muito bem em curvas com apoio (típicas do Mobai), e também nas trocas rápidas de direção, típicas da Serra do Japi.
Mas, em trilhas mais naturais e repletas de pedras e erosões, o pequeno volume dos pneus Michelin Force AM 2.23 tornam-se um fator limitante, assim como a simplicidade da suspensão dianteira - apesar de ser boa o suficiente para quem está começando no Enduro, a RockShox 35 Silver TK vai sofrer na mão de pilotos mais experientes.
Vale destacar que os pneus do fabricante francês são ótimos. Já tendo utilizado um par deles “até o osso”, podemos afirmar que eles grudam bem em todas as situações, e furam muito pouco. Mas, atacar uma trilha “chunky” com 140 mm de curso na frente, 0 mm atrás e pneus 2.23 sem protetor de aro é pedir para ganhar uma roda amassada e um pneu furado.
Além disso, o garfo RockShox 35 Silver R utiliza uma mola de aço sem regulagem de pré-carga. Mesmo para nosso piloto de testes que pesa 67Kg, ele trabalha muito afundada no curso, algo que atrapalha bastante nas trilhas mais inclinadas pelo aumento exagerado do ângulo da caixa de direção. Além disso, o damper TK tem dificuldades em controlar os movimentos do garfo em impactos fortes consecutivos.
Por isso, em um último estágio do teste, a Sense Hardcore Comp ganhou um par de pneus 2.6, com um protetor de aro Oxxy instalado na roda traseira e também em uma suspensão dianteira levemente modificada, com alterações na mola e no damper, que melhoraram bastante o controle da bicicleta - confira mais detalhes abaixo.
Montada nesta forma, a Hardcore provou ser uma bicicleta extremamente rápida para o seu preço, algo que podemos demonstrar com o print abaixo:
A imagem mostra alguns tempos na trilha do Mago, na Serra do Japi, com a terceira melhor marca do ano sendo a da Sense Hardcore (as outras foram feitas com uma full-suspension de enduro). Levando em conta a falta de experiência com a bike, o terreno extremamente solto no dia do teste e alguns erros, concluímos que ela pode ser, na média, cerca de 10 segundos mais lenta nesta trilha do que uma full que custa algumas vezes mais do que ela. Definitivamente, nada mal para uma bike de 10 mil reais com algumas modificações básicas.
Para quem não conhece, o Mago é um single mais travado, com centenas de curvas em sequencia, trechos de grande inclinação, pequenas subidas curtas e duras, algumas pedras, saltos, raízes e drops - por sem bem completa e desafiadora, ela ótima para testar bicicletas.
No mesmo pedal, a bike desempenhou muito bem em trilhas de velocidade intermediária, com seu rendimento comparado com a full se mostrando mais limitado apenas em trechos de altissima velocidade com muitos buracos - algo que era de se esperar.
Além disso, nos trechos mais inclinados, o canote retrátil de 125mm limitou um pouco a movimentação em cima da bicicleta. Olhando para o quadro, dá para perceber que ela pode receber um canote maior, principalmente se a extensão do tubo do selim acima do tubo superior fosse menor.
Mas, mais do que a velocidade pura, a Hardcore Comp é uma bike bem divertida nas descidas, um traço comum nas hardcore hardtails.
Saltando
Ao sair do chão, percebemos que a Hardcore é uma bike bem tranquila nos pulos mais velozes e arriscados. Até porque, ela gosta de ser provocada para voar, exigindo que o piloto de aquela apertada na rampa para que ela realmente ganhe altura.
No ar, o tamanho mais compacto da geometria M e o tubo superior bem baixo permitem que você brinque com ela com facilidade, com a Hardcore simplificando a vida do piloto em manobras que exigem entortar a bike no ar.
Trata-se de uma bicicleta que voa com calma e classe, ideal para quem está começando a saltar, por conta de seu comportamento previsível que não tenta te jogar por cima do guidão.
Subindo
Com uma frente um pouco mais compacta e um guidão não muito alto, a Hardcore sobe extremamente bem para uma bike de enduro, e isso certamente deve-se ao fato dela não ter suspensão traseira.
Além disso, como o central é relativamente alto e o sag da suspensão traseira não existe, ela permite encarar escaladas mais acidentadas com poucos riscos de bater o pedal no chão.
Durante a avaliação, pegamos subidas de single e de estradão com a Hardcore e, apesar deste não ser o objetivo da bicicleta, certamente subir fazendo menos força sempre será um enorme ponto positivo no nosso ponto de vista - até porque, assim você fica mais descansado para descer.
A bike sobe tão bem que não é difícil imaginar ela com uma suspensão um pouco mais leve, com 120 ou 130mm de curso, cumprindo a função de uma bike de trail / downcountry extremamente competente, capaz de passar enormes doses de confiança para ciclistas iniciantes que ainda não dominam bem as descidas, ou para ciclistas experientes que querem se divertir montanha abaixo sem muitas preocupações - a única limitação neste sentido seria o suporte único de garrafinha.
Suspensão
Encontrar uma suspensão de curso longo que seja robusta, funcione bem e seja barata é uma tarefa praticamente impossível e, certamente, a engenharia da Sense se deparou com este problema ao fazer o Spec da Hardcore Comp, até mesmo para manter o preço da bike abaixo dos 11 mil reais.
Por isso, a suspensão que equipa a bike é adequada para quem está começando no enduro, mas nem tanto para quem vai acelerar no limite. Vale dizer que uma RockShox 35 Gold RL, que é basicamente a mesma suspensão, mas com mola a ar DebonAir e damper Motion Control custa, nos Estados Unidos, cerca de 500 dólares. Um garfo desse, no Brasil, dificilmente custaria menos do que 5 mil reais - felizmente, como você vai ver abaixo, você precisa gastar muito menos do que isso para deixar o funcionamento da 35 Silver R que equipa a bike bem mais aceitável.
Com 140mm de curso extraídos de uma mola de metal sem nenhum tipo de regulagem e com seus movimentos controlados pelo damper TurnKey (TK), o mais simples da RockShox, o 35 Silver R é um modelo extremamente básico.
Pelo lado positivo, ele tem hastes parrudas de 35mm, construção de alta qualidade, ótima rigidez lateral, contando inclusive com uma espiga cônica e drop-outs boost (110mm) compatíveis com cubos Torque Caps. Sua massa de 3kg indica que trata-se de um componente robusto.
Configurada 100% original, a mola que equipa a suspensão mostrou-se muito macia para uma pilotagem agressiva e, apesar de ser difícil atingir o fim de curso, o garfo acaba trabalhando com pouco suporte, deixando a frente da bicicleta afundar demais.
Além disso, o Damper TK simplesmente não consegue controlar os movimentos do garfo em impactos consecutivos, o que chega até como uma surpresa para nós. Isso porque, ao longo dos anos, já usamos muitos garfos de 100 mm equipados com esta tecnologia e, apesar da simplicidade, o funcionamento é aceitável.
Com mais curso, porém, a suspensão começa a se movimentar de maneira descontrolada, oscilando para cima e para baixo quase como se ela não tivesse um lado hidráulico, sensação que pregou alguns bons sustos em nosso piloto de testes: a bike anda muito rápido nos trechos lisos e, quando você chega na buraqueira, a roda da frente começa a pular, mesmo que você “aperte” o retorno.
Modificando a RockShox 35 Silver R - Para completar o teste, levamos a suspensão original da Hardcore Comp para a oficina de Fernando “Areia”, localizada no bairro da Pompeia, em São Paulo, para realizar algumas alterações que mudaram completamente o funcionamento do garfo.
“É uma suspensão de entrada, então fizemos algumas alterações para melhorar o funcionamento dela. O primeiro passo foi colocar alguns elastômeros dentro da mola, para deixar o funcionamento mais duro e progressivo. Além disso, trocamos o anel da guia do pistão, onde ficam as lâminas, por um o-ring, para melhorar o controle da compressão e do retorno”, explicou o experiente mecânico.
Com as mudanças, o garfo certamente não se transformou em uma ZEB Ultimate, mas sua usabilidade aumentou bastante, transformando a bike da água para o vinho nas situações mais críticas.
Com estas alterações, o 35 Silver R ganhou um comportamento mais previsível e consistente, que nos fez imaginar como ficaria esta mesma bicicleta montada com uma suspensão dianteira mais avançada - certamente a brincadeira ficaria ainda mais rápida e divertida.
Freios
A Hardcore vem montada com manetes BL-MT401, acionando pinças de dois pistões BR-MT410, com discos SM-RT54 de 180mm na frente e 160mm atrás. Apesar de ser um conjunto super básico, é difícil reclamar dos freios a disco hidráulicos da Shimano, até por conta da massa reduzida de nosso piloto de testes.
Os manetes são longos e não possuem regulagem de ponto de mordida, apenas de posição. Por isso, montamos eles bem longe das manoplas. Com isso, apesar de não serem super fortes, eles seguram bem a bike e tem uma ótima modulação, talvez fruto do sistema que dispensa o Servo-Wave, tecnologia que da aquela sensação de “liga-desliga” comum dos freios Shimano.
Durante o teste, não sentimos problemas de super aquecimento, mas isso pode acontecer com pilotos mais agressivos e pesados. Aqui, fica o ponto negativo do conjunto: caso você queira trocar as pastilhas por algum modelo com composto metálico, será preciso trocar também os discos, já que os SM-RT54 só aceitam pastilhas de resina.
Transmissão
O grupo Shimano Deore M 5100 1x11 que equipa a Hardcore Comp é uma grata surpresa. O conjunto veio com uma pedivela com coroa de 32 dentes e com um cassete 11-51. Apesar das 11 velocidades, ele é um conjunto bem superior à um SRAM SX, por exemplo, principalmente do ponto de vista da robustez.
Além disso, em rolês de enduro, o pinhão de 10 dentes faz muito pouca falta, assim como o intervalo menor entre os pinhões como os de um grupo 12v. Para falar a verdade, durante o pedal, você simplesmente esquece que ele tem 11 marchas, até mesmo pela presença do pinhão grande com 51 dentes.
O câmbio em si é sólido e bom construído, contando com boa parte das soluções de projeto dos grupos Shimano mais avançados. Além disso, as trocas são macias e precisas, apesar de não serem as mais rápidas do planeta.
O trocador, que tem uma pegada um pouco mais “turismo”, com cliques mais macios e silenciosos do que os SLX, XT e XTR, tem um ótimo funcionamento, inclusive contando com detalhes como a alavanca dianteira que troca as marchas para baixo nas duas direções (2 way release), e com a alavanca do dedão que sobe até três marchas de uma vez.
Além disso, apesar de ser bem básico, o guia de corrente não ficou raspando e ajudou a manter a corrente no lugar, mesmo em trilhas mais esburacadas. Por isso, afirmamos que a transmissão é um ponto extremamente bem resolvido na Sense Hardcore Comp.
Rodas e pneus
Como dissemos acima, os pneus Michelin Wild AM 2.35 que equipam a Hardcore Comp são ótimos. Eles tem um composto bem aderente e uma construção forte, que sofre pouco com furos e rasgos - além disso, eles tem uma durabilidade bastante aceitável.
Nosso piloto de testes tem uma grande experiência com este modelo de pneu, já tendo usado um par deles do início até o fim da banda e, no geral, a conclusão é que, apesar de ser um baita pneu, o Wild AM 2.35 está mais para o pneu de trail do que um para All-Mountain e Enduro.
Com eles na bike, dá para fazer muita coisa sem preocupações. Além de rolarem bem, eles tem muito mais aderência e controle do que um pneu puramente de cross-country, mesmo que ele seja um XC “parrudo” - na comparação, ele gruda bem mais do que um Kenda Booster Pro 2.4 ou mesmo um Schwalbe Racing Ray 2.35 com composto Addix.
Mas, não há como negar que, em uma Hardcore Hardtail, pneus com mais volume interno são altamente recomendados, e é somente ai que os Michelins mostram suas limitações.
Falando em rodas, não temos reclamações sobre as que equipam a Harcdore Comp. Trata-se de um conjunto simples, com aros de alumínio com 30mm de largura interna e compatibilidade com tubeless - eles vem com fitas de aro convencionais.
Durante o teste, não entortamos nem amassamos a roda, o que é um ponto positivo, já que nosso piloto tem a fama de ser um destruidor de rodas traseiras de bicicletas hardtail. Os cubos Shimano HB-MT400 utilizam a tradicional tecnologia Cup and Cone e padrão de montagem para discos Centerlock - ao todo, são 32 raios por cubo, criando um conjunto simples e robusto.
Pros
- Versatilidade de uso
- Transmissão
- Geometria
Contras
- Suspensão dianteira
- Canote poderia ser mais longo
Conclusão - Qual é o mínimo que dá para gastar para ter uma bike de enduro?
Em boa parte de seus detalhes, a Hardcore Comp carrega o espírito das Hardcore Hardtails. Trata-se de uma bike super versátil que, original ou com pequenas alterações, pode atender quem quer uma primeira bicicleta para pedalar com confiança, ou quem realmente deseja arrepiar nas trilhas sem gastar muito dinheiro.
Apesar de sua suspensão dianteira ser um fator limitante, o modelo tem uma plataforma capaz de receber muitos upgrades, que podem transformar a Hardcore Comp em uma bicicleta completamente diferente, atendendo pilotos com diferentes objetivos.
Valores com os upgrades
O Mínimo do mínimo - Sense Hardcore Comp (R$10.990,00) + Conversão Tubeless com fita, selante e válvulas (R$ 402,40) + Protetor e aro traseiro (R$ 355,00) = R$ 11.747,40.
O mínimo recomendável - Itens acima + alteração na suspensão dianteira (R$ 227,00), pneus maiores (Ref.: Maxxis Assegai +- R$ 650,00 cada) = R$ 13.274,40.
Com certeza, quase 13.500 reais não é pouco dinheiro. Mas, comparando a velocidade e a diversão que é possivel atingir com a Sense Hardcore Comp com seu custo, dá para concluir que, com este dinheiro e uma boa dose da habilidade, é possível acompanhar bicicletas que custam muitas vezes isso, mesmo nas trilhas mais agressivas do Enduro e do All-Mountain.
Além disso, em médio e longo prazo, os custos de manutenção da suspensão traseira também entram na conta. Afinal, sempre é vantagem se divertir sem se preocupar com a manutenção de 50 horas do shock!
Avaliação e texto - Gustavo “Cebo” Figueiredo - Strava
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