Para muitos e principalmente quem é novo no mountain biking, fica difícil imaginar encarar trilhas técnicas e inclinadas com uma bicicleta rígida (sem suspensão traseira). Parece não fazer sentido!
Porém, no inicio do mountain biking, essa era a única maneira de encarar as trilhas mais difíceis e muitas adaptações surgiram, como colocar suspensões dianteiras de muito curso em quadros de cross-country ou de street / urban. Essas adaptações eram um tiro no escuro, pois os quadros não tinham geometria adequada para essas suspensões e muitos quebravam ou ficavam com comportamentos estranhos em algumas situações.
Outro ponto importante é que as bikes rígidas são muito mais baratas que as full-suspensions. No cenário do downhill brasileiro do início dos anos 2000, era comum a categoria de bikes rígidas ter mais participantes que as outras categorias somadas. Depois de alguns anos algumas bikes full suspension de menor custo chegaram ao Brasil e a categoria rígida acabou ficando como uma porta de entrada para iniciantes.
Para completar, bikes rígidas trazem uma vantagem: a simplicidade. Sem a suspensão traseira, não temos que lidar com os pivôs e nem amortecedor, o que significa menor manutenção.
Por essas questões todas, esse tipo de bike voltou a moda em alguns países e, pensando nisso, surge a Hardcore, a mais nova bike all mountain rígida da Sense.
A Hardcore é um modelo inédito na linha e por enquanto vem em duas configurações: a Comp e Comp R. Ambas foram pensadas para serem uma porta de entrada no mundo do All Mountain / Enduro, sendo uma bike de menor custo. O quadro é um projeto 100% Brasileiro, em alumínio. Tivemos a chance de testar a versão Comp R.
Primeiras Impressões
O quadro, concebido pelo projetista da Sense Pierre De Tarde, é realmente muito bonito. É todo prateado, com uma pequena parte em azul na parte da frente. Um detalhe muito legal, é uma parte perto do pneu traseiro que serve como abridor de garrafas, o que tem a ver com o lifestyle do all mountain de tomar uma cerveja depois do pedal.
Todas as versões da Hardcore já contam com canote dropper, que é essencial para essas modalidades. A Comp R, que testamos, tem uma suspensão dianteira de 150mm de curso, enquanto a Comp conta com 140mm.
Os pneus também são bem robustos, o que é ainda mais necessário para uma bike rígida com essa proposta. Portanto, a bike é equipada com os Michelin 29 x 2.40 Wild AM2.
No cockpit, avanço de 40mm e guidão de 780mm de largura com rise de 20mm colocam o piloto em uma posição agressiva. Já a relação é Shimano Deore com 12 marchas, com pedivela de 170mm e guia de corrente.
Ficha Técnica
Quadro: Hardcore HT, aluminio Double Butted Alloy 6061 Boost E-Thru 12x148Mm, central de rosca
Caixa De Direção: Neco Integrated 1.1/8 1.5"
Câmara De Ar: Chaoyang, 29X2.1/2.50
Cambio Traseiro: Shimano Deore Rd-M6100
Canote Do Selim: Sentec Dropper Post 440/125Mm 31.6Mm, Offset 0Mm, W/ Remote Sl-Mt500-Il, Left
Cassete: Shimano Deore Cs-M6100-12
Corrente: Shimano Deore Cn-M6100, 118Links
Disco Dianteiro: Shimano Sm-Rt64 203Mm Front
Disco Traseiro: Shimano 180Mm Rear For L & Xl Frame Size /160Mm Rear S & M Frame Size
Freio Dianteiro: Shimano Deore Bl-M4100 Br-Mt420 4 Pistões
Freio Traseiro: Shimano Deore Bl-M4100 Br-Mt420 4 Pistões
Guia De Corrente: Sentec Iscg-05
Guidão: Sentec Alloy 780X35Mm, Back Sweep 6° Rise 20Mm
Manoplas: Sense Trail 22X135Mm W/Lock
Mesa: Sentec Alloy Stem 40Mm / 35Mm / -12°
Movimento Central: Bsa Shimano
Pedivela: Shimano Deore FC-M6100-1, For Rear 12S 2-Pcs Fc, 170Mm, 32T
Pneu Dianteiro: Michelin 29X2.40 Wild Am2 Competition Line Ts Tlr
Pneu Traseiro: Michelin 29X2.40 Force Am2 Competition Line Ts Tlr
Roda Dianteira: Sentec 29" Disc Tubeless Ready Asymetrical, Alloy 6061 - 622X30Mm, 32H Cubos Shimano Hb-Mt410-B 32H 110X15Mm
Roda Traseira: Sentec 29" Disc Tubeless Ready Asymetrical, Alloy 6061 - 622X30Mm, 32H Com Cubos Fh-Mt410-B 32H 148X12Mm
Selim: Fizik Alpaca Terra X5 145Mm
Suspensão / Garfo: Rock Shox 35 Silver Tk 29" 150Mm Travel Boost 15X110Mm Solo Air
Tamanhos: S / M / L / XL
Trocador Direito: Shimano Deore Sl-M6100-R 12S - I-Spec-V
Garantia: 5 Anos Para O Quadro. 1 Ano Contra Defeitos De Pintura/Verniz Ou Adesivos | 1 Ano Componente Elétrico | Demais Componentes De Acordo Com O Fabricante.
Peso: 14.470G
Preço: R$ 14.990
Geometria
A Hardcore tem números muito interessantes em sua geometria. Para começar, o ângulo de direção de 65 graus quando montado em uma suspensão de 150mm é bem inclinado e desejável para a proposta da bike. Isso traz uma maior segurança em trechos técnicos, descidas inclinadas e curvas.
O central também é bem baixo, com 40mm de BB Drop, ajudando a deixar a bike mais estável e melhor em curvas. O chainstay é bastante curto, o que também vai facilitar a manobrabilidade da bike e as curvas.
Falando de reach, algumas pessoas podem achar a bike curta. Porém, ela é oferecida em 4 tamanhos, pequena, média, grande e extra grande. Isso da margem para uma escolha mais aprimorada se for o caso.
O Teste
O teste de uma bike desse tipo é um desafio à parte. É uma categoria relativamente nova e basicamente nenhuma marca traz um modelo desse tipo ao Brasil, até onde sabemos. Então, não temos referência para comparar. Ao mesmo tempo, temos a sorte de termos pilotos de teste que já tiveram muita experiência com bikes hardtail no passado.
Em conjunto com a Sense Exalt E-Trail, estivemos no Santa Helena Bike Park, um lugar bem técnico, localizado em Simão Pereira (MG). Para nos ajudar, convidamos o Juninho, proprietário do Bike Park e que compete há mais de 30 anos e conta diversos títulos, como Bi-Campeão Brasileiro de Downhill, Campeão Estadual do RJ de Downhill e 5o lugar no Campeonato Pan-Americano de Downhill, na categoria Master.
Da nossa parte, tivemos Pedro Cury, que conta com mais de 25 anos de mountain biking, mais focado no trail, enduro e downhill e diversos testes de bike no currículo. Para afinar um pouco mais as opiniões, andou também na bike Breno Bizoto (Canal Ciclo Sul), João Marley (competidor de downhill) e Diego Knob (multi-campeão de enduro e downhill).
Tanto Pedro Cury, quanto Juninho, tiveram experiências em bikes rígidas adaptadas, quando ainda era difícil ter full-suspensions no Brasil. Basicamente eram usados quadros de cross-country com suspensões de maior curso, pneus mais grossos e avanços mais curtos e guidões mais largos. Mas tudo isso com muita limitação!
Assim como o outro teste, este também faz parte de um “colab” entre o Pedal e o Ciclo Sul, portanto você poderá ver a parte de vídeo deles aqui no artigo e também no canal deles.
Descendo
Ao andar com a Hardcore no plano, percebe-se que a frente é bem aberta e a mesa e guidão te deixa em uma posição de ataque, bem diferente de uma bike de cross-country. Mas é quando a trilha inclina pra baixo que fica nítido como a bike é capaz e “na mão” - muito diferente das adaptações de antigamente.
Quando tudo começa a ficar mais difícil, bate uma preocupação com a capacidade da bike, por ser uma rígida. Porém, com a frente com muito curso e geometria bem acertada, rapidamente se percebe que é possível largar mais os freios.
Aliás, um grande acerto nessa bike, e grande diferença para uma bike de cross-country são os freios Shimano Deore de 4-pistões. Mesmo sem ser uma full-suspension, a bike está apta a andar em situações perigosas onde é preciso frear com consistência e confiabilidade.
Trechos Técnicos
Sim, é uma bike rígida e não há amortecedor traseiro para corrigir seus erros. Porém, a geometria, suspensão de maior curso, pneus de enduro, avanço curto e guidão largo, a colocam numa posição de muita confiança para encarar os trechos técnicos.
Muitas vezes esquecemos que estávamos em uma rígida, pois a frente é bem capaz e a posição é parecida com uma bike de enduro, mas assim que a roda traseira bate em um obstáculo, a “batida seca” e vibrações nos lembram que é uma “rabo duro”.
Nessas situações, vira uma questão de adaptação e boa avaliação dos obstáculos. Existe menos margem para erros e é preciso avaliar bem as linhas das descidas, pois “sair atropelando tudo” não é tão fácil como em uma full.
Usar uma pressão mais baixa nos pneus vai ajudar a deixar os impactos na roda traseira mais suaves, quem quiser ir além, pode colocar um protetor de aro e usar pressões extremamente baixas.
Vendo a geometria, com um BB drop de 40mm, ficamos com medo de bater o pedivela ou pedais no chão em algumas situações, mas isso não aconteceu. O pedivela de 170mm e pneus maiores ajudam a evitar esses problemas.
Um ponto que pode melhorar na Hardcore é o uso de um canote dropper de maior curso. Para nós, 125mm é pouco e nos obriga a deixar um pouco mais da parte fixa para fora se quisermos pedalar corretamente com o canote todo estendido, mas comprometendo a altura mínima possível. Nesse caso, quanto maior o curso, melhor! Falamos com a Sense sobre isso e a justificativa é que um modelo de maior curso aumentaria muito o preço final.
Curvas
Com essa geometria que comentamos, estava claro que a bike seria excelente em curvas. ngulo de direção aberto, central baixo e chainstay curtos fizeram a fórmula do sucesso.
Saltos
Apesar de não poder contar com a absorção da suspensão traseira, saltar com a Hardcore é bem previsível, uma vez que também não haverá surpresas no comportamento ao sair dos saltos.
Todos os pilotos de teste se adaptaram bem nos saltos e Juninho saltou o road gap, o maior salto do bike park, com mais de 4 metros de altura! Realmente foi a prova de fogo da Hardcore.
Subidas
Não é uma bike de cross-country. Portanto, mesmo sem a suspensão traseira, ela ainda sobe como uma bike de enduro, tanto pelo seu peso, quanto pela posição em que o piloto fica. Tem apenas a vantagem de não roubar energia. A suspensão dianteira tem trava e o ângulo do tubo do selim não é tão ruim como em algumas full-suspension, dando um ganho marginal.
Vídeo - Teste em colab com Revista Ciclo Sul
Pros
Geometria moderna
Preço
Contras
Canote dropper poderia ter mais curso
Conclusão
Ficamos muito felizes com a aposta da Sense em criar uma bike como a Hardcore. Por um lado é uma excelente porta de entrada para as modalidades extremas, devido ao seu baixo custo. E por outro lado é uma bike que atende a um nicho de quem quer uma bike robusta, simples e direta ao ponto.
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