Pela primeira vez no Brasil aconteceu um evento radical da Red Bull somente com bikes. Participaram da competição os vinte melhores pilotos do Brasil e os principais da América do Sul. O cenário escolhido foi a cidade de Congonhas-MG, famosa por suas esculturas feita pelo mestre Aleijadinho.
Vejam a entrevista com os pilotos no link:https://www.pedal.com.br/exibe_texto.asp?id=723
Um pouco do contexto histórico
Congonhas fica há 70km de Belo Horizonte. A cidade é considerada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco devido a sua riqueza Barroca. As esculturas em pedra sabão esculpidas pelo mestre Aleijadinho foram feitas no período de 1796 à 1805, logo após o Movimento da Inconfidência Mineira, tão quanto que algumas imagens do Cristo receberam marcas do enforcamento de Tiradentes. O “mestre” fazia questão de deixar isso claro nas suas obras, ele gostava de comparar o Cristo com o herói mineiro.
A pista
Com aproximadamente 500 metros, a descida foi considerada difícil pelos pilotos, que tinham quem enfrentar mais de 10 obstáculos ao longo do percurso. Eram gangorras, wall-rides, troncos, carros e até fogo.
As rampas estavam espalhadas em vários pontos. As mais difíceis foram as três primeiras por não terem recepção (outra rampa para complemento de aterrissagem). Elas faziam parte da primeira curva longa. Qualquer aterrissagem errada era destruição das bikes.
Por falar em destruição... muitas bikes foram danificadas. Aros empenados e amassados, além de raios quebrados. Câmbios e gancheiras também não ficaram de fora. Mas o que preocupou alguns foi o quadro quebrado do chileno Oscar Yunge. Ele não participou dos últimos qualify's de sexta, mas conseguiu fazer uma solda no sábado pela manhã.
Quinta-feira – reconhecendo a pista
Alguns pilotos fizeram o reconhecimento da pista pela noite. O que proporcionou algumas quedas. A mais grave delas foi com Márcio Ravelli que caiu de costas no jump dos troncos. Sua coluna ficou há base de gelo por toda sexta-feira e nem se quer participou dos qualifys à noite. Outro que ficou comprometido foi Juninho com luxação no tornozelo durante toda competição, mas mesmo assim competiu com garra.
Sexta-feira – treinos livres e qualify à noite
Durante o dia, os treinos foram de arrepiar - destruição da bikes como já citamos acima. Alguns nem puderam treinar direito porque tiveram que fazer reparos nas suas respectivas. Nesta competição tudo chamava atenção no que se tratava em peça quebrada. Muitos guias de coroas foram empenados e quebrados durantes aterrissagens.
O qualify à noite chegou com uma surpresa jamais vista para alguns pilotos e inédita no Brasil. Dois telões foram expostos: chegada e largada. Ambos mostravam o perfil completo do competidor, além da sua descida e o seu tempo. Tudo ao vivo.
Por sorteio, seguem a ordem dos pilotos e suas descidas: 1a - 2a - 3a; durante os três tempos do qualify.
1º Carioca – problemas na bike / problemas com a bike / 00:48:52;
2º Kblinho – 00:45:12 / 00:45:06 / 00:43:00;
3º Cepi (ARG) – problemas na bike / 00:48:06 / 00:46:36;
4º Kdra – 00:52:10 / 00:50:58 / 00:49:82;
5º Markolf – 00:48:48 / 00:42:88 / 00:42:18;
6º Patrícia – 00:53:88 / 00:53:62 / 00:51:18;
7º Neni – --- / 00:45:94 / 00:45:34;
8º Juninho – 00:44:88 / 00:43:94 / 00:42:46;
9º Marra – 00:44:42 / 00:44:00 / 00:42:46;
10º Nataniel - 00:45:90 / 00:43:64 / 00:59:47 (caiu);
11º Jarrin - 00:45:12 / 00:42:34 / 00:41:78 melhor tempo;
12º Lu – 00:44:58 / 00:43:88 / 00:42:76;
13º Pipa – --- / 00:46:06 / 00:45:88;
14º Robert – --- / problemas com a bike / ---;
15º Coto (CHI) – --- / quadro quebrou nos treinos:
16º Soto (EQU) – 00:46:56 / 00:44:68 / 01:09:40;
17º Wermuth – 00:47:16 / 00:44:68 / 00:43:66;
18º Urubu – 00:43:13 / 00:42:82 / 00:42:34;
* O tempo (---) não foi divulgado durante a descida por problemas técnicos nos telões.
** Ravelli não desceu por causa da coluna e Rafinha por problemas na bike durante os treinos da tarde.
Sábado
Depois das descidas da noite anterior, os pilotos voltaram à pista pela manhã, no que resultou mais quebras de bicicletas. Chegou uma hora que ninguém mais queria descer e aí só foi esperar anoitecer e se preparar para grande final. Alguns bikers aproveitaram para dormir e descansar.
O sol deixando as montanhas era o sinal da chamada para o qualify. Faltava a última descida que determinaria os 16 pilotos que disputariam o dual em 8 baterias. Ou seja, os quatro últimos tempos seriam eliminados.
Todos os pilotos arrepiaram, alguns conseguiram abaixar suas próprias marcas em 2 segundos. Segue a ordem da descida do qualify por classificação de sexta feira:
1º Rafinha – 00:44:88;
2º Ravelli - 00:46:78;
3º Patrícia - 00:50:84;
4º Kdra - 00:48:24;
5º Carioca - 00:46:94;
6º Cepi - 00:45:12;
7º Pipa - 00:43:34;
8º Robert - 00:44:12;
9º Neni - 00:44:12;
10º Coto - 00:42:76;
11º Soto - 00:43:82;
12º Wermuth - 00:43:24;
13º Nataniel - 00:41:00;
14º Kblinho – piloto caiu;
15º Lu - 00:41:52;
16º Marra – piloto caiu;
17º Juninho - 00:42:18;
18º Urubu - 00:41:36;
19º Markolf - 00:40:24;
20º Jarrin - 00:41:88;
Com a finalização dos tempos de sexta e sábado, os eliminados foram: Patrícia Loureiro, Kdra, Ravelli e Carioca*.
*O piloto Carioca entrou no lugar de Kblinho que teve o braço quebrado após sua queda. Já Marcos Marra teve a boca partida e o capacete quebrado. Os médicos deram liberação para sua descida após os exames. Seu capacete foi trocado na mesma pelo seu patrocinador que estava presente no evento.
O Red Bull Desafio dos Profetas ficou definido assim:
Cepi X Markolf
Rafinha X Nataniel
Robert X Urubu
Neni X Lu
Carioca* X Coto
Wermuth X Marra
Pipa X Juninho
Soto X Jarrin
Markolf fez uma descida tranqüila e fácil em relação Carioca e Coto que fizeram um duelo bonito, brigando até os últimos degraus.
Nataniel também ganhou fácil do piloto mais jovem da competição. Já Marra e Wermuth se chocaram legalmente na grande curva do wall-ride, sendo que o Wermuth quebrou a gancheira e não pôde mostrar suas reações.
Urubu levou a melhor com Robert numa descida sem muitas “brigas”. O guerreiro Juninho tinha pela frente o melhor “dowhilleiro” do estado de Minas e toda torcida contra. Os dois lutaram até o final, sendo que o paulista levou a melhor.
A melhor largada do desafio foi a de Lu, destaque para sua passagem espetacular no Jump do carro. Enquanto todos saltavam, ele a fazia com uma técnica de BMX, no qual a roda dianteira é passada por cima do obstáculo sem perder tempo. Enfim, um vôo rasante e rápido. Seu adversário Neni, não causou muito problema, mas deu um certo trabalho.
O confronto que causou frustração para alguns foi do equatoriano Jarrin e seu compatriota e companheiro de equipe Andrés Sotomayor. Infelizmente eles caíram na mesma chave! Jarrin levou a melhor.
Quarta de finas:
Markolf X Coto
Marra X Nataniel
Jarrin X Lu
Juninho X Urubu
Markolf se firmava a cada descida. Um dos duelos mais bonitos foi de Jarrin e Lu. Ambos são grandes campeões de BMX em seus países. Lu saiu na frente e dominou até a rampa do fogo – metade do percurso – quanto foi ultrapassado e eliminado pós-linha de chegada.
Nataniel e Marra desceram emparelhados até a grande curva do Wall-ride, quando o segundo perdeu o controle da bike e caiu após o drop. Antes de descer, Marra estava cuspindo sangue por causa do seu ferimento e ninguém queria deixá-lo descer. Depois dessa ele terá outro sobrenome. Parabéns Marcos Garra!
Com o tornozelo inchado, Juninho fez de tudo para eliminar Urubu, que ao final de sua descida detectou um problema na bike e ficou ameaçado de competir a semi-final.
Semi-finais
Markolf X Jarrin
Nataniel X Urubu
O brasileiro e equatoriano fizeram uma final antecipada. Só que desta vez não tivemos sorte e o gringo levou a melhor. Markolf caiu e não teve reações. Nataneil foi um piloto que aos poucos se firmava nas finais. Sua descida com Urubu foi bem disputada, mas caiu no momento crucial da prova. Depois se levantou e ainda fez uma gracinha para galera num jump.
Decisão do terceiro e quarto: Markolf X Nataniel
A experiência de Nataniel contou bastante até onde ele chegou. Depois disso era muita sorte. Está entre os quatro melhores mostrou que ele ainda é um dos melhores “downhilleiros” do Brasil. Parabéns!
Markolf mais uma vez não teve sorte. Isso faz parte. Não podemos cobrar nada. Lembramos que ele ficou em segundo lugar na World Cup. Valeu Markolf!
O duelo dos dois foi praticamente "caseiro". Ambos são amigos de longas datas e a cada um soube respeitar a derrota e vitória. Parabéns!
Final: Urubu X Jarrin
Mais uma vez Urubu estava numa final de um evento televisionado. Sua popularidade cresce a cada dia, assim como antipatia por alguns. Até então, seu adversário era o melhor da competição, Mário Jarrin.
Quando largaram, os dois disputaram as três primeiras rampas lado a lado, até que o brasileiro cometeu um erro e entrou aberto demais na grande curva do wall-ride, sendo ultrapassado.
Jarrin dropou na frente e desequilibrou! Um erro fatal que Urubu soube aproveitar e conseguiu encostar do lado para fazer uma ultrapassagem emocionante. Neste momento todo público foi ao delírio. A disputa estava sendo eletrizante, com um nível inigualável. Ninguém sabia quem levaria a melhor. Até que nosso Urubu levantou as asas em mais um vôo e conseguiu botar distância e chegar em primeiro.
O problema da bike de Urubu
A rosca do movimento central da bike estava espanada e o pedivela estava totalmente solto, danificando a pedalada. Graças ao trabalho – uma gambiarra – de Guiné ele conseguiu descer a sua semi-final.
Enquanto a decisão do terceiro e quarto lugar rolava, outra gambiarra estava sendo feita para reforçar. Foram colocados dois “amarra-gatos” (zip-tie) no eixo do movimento central para que o pedivela ficasse fixo. Essa altura do campeonato, o movimento central estava totalmente solto dentro da caixa de centro. Enfim, os amarra gato serviram para não deixar o pedivela enconstar no quadro.
Organização
Todo evento da Red Bull é feito com qualidade e responsabilidade. Nada saiu errado. A satisfação de todos presentes foi estampada no sorriso dos organizadores, assim como dos pilotos que tiveram a honra de participar de um evento deste nível. Todos eles tiveram suas passagens, almoços e estadias pagas pela Red Bull.
Tadeu e Rogério como diretores técnicos da prova, também cumpriram seus papeis. Todos estão de parabéns!
Aguardem mais fotos do evento e a foto da gambiarra na bike de Urubu.
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