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Polícia do Rio faz uma limpa nas favelas atrás de bikes

Com dificuldades para deter integrantes da gangue da bicicleta, que pratica roubos principalmente em Ipanema e no Leblon, a polícia resolveu ontem apreender todos os veículos de duas rodas e selim — mas sem estarem presos por corrente e cadeado — que encontrou no Morro do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana.

Em ação conjunta do 23 BPM (Leblon) e do Grupamento de Policiamento de Áreas Especiais (Gpae), 20 homens levaram 27 bicicletas da favela, e mais três estacionadas na entrada do Morro do Cantagalo, em Ipanema, para um depósito do batalhão. O comandante da unidade, coronel Carlos Norberto Menezes, admitiu não saber se as bicicletas pertencem a bandidos, mas disse não ter dúvidas de que a “apreensão preventiva” surtirá efeito:

— Vamos conseguir evitar que cometam crimes com bicicletas.

O delegado Alberto Pires Lage, da 14 DP (Leblon), onde foi registrada a apreensão, elogiou a medida:

— Bicicleta é fonte de problema. A gente tem que tomar uma atitude. Todo dia registramos um, dois casos, de pessoas assaltadas por ladrões com bicicleta só aqui na área.

Segundo o comandante do 23 BPM, as pessoas que conseguirem comprovar que são donas de alguma bicicleta apreendida ontem terão o veículo de volta:

— Basta que apresentem a nota fiscal que devolvemos a bicicleta — disse o coronel Carlos Norberto, que não acredita que terá muitas reclamações. — Só pegamos as que tinham procedência suspeita, que estavam paradas sem corrente.

Jurista diz que a ação foi arbitrária

Durante a operação, os policiais apreenderam bicicletas que estavam paradas na Ladeira Saint Roman, em frente a uma oficina. No local, havia mais de 50 delas enfileiradas, mas só foram levadas para um ônibus da PM, as que estavam sem cadeado. Era o caso da bicicleta de um rapaz, que esteve ontem à tarde na 14 DP, vestindo uniforme de uma loja da qual ele dizia ser vendedor. Muito nervoso, ele se identificou apenas como André e contou que havia emprestado o veículo para um amigo, que trabalha com ele, ir em casa almoçar:

— Ele contou que estava chegando ao morro quando os policiais mandaram ele sair da bicicleta e a levaram — disse André. — Não tenho nota fiscal, comprei a bicicleta há mais de seis anos. Como vou fazer?

A operação da polícia provocou ontem polêmica. O jurista Célio Borja disse que a ação foi arbitrária:

— Só poderiam ter feito isso com ordem judicial ou se houvesse flagrante envolvendo determinada bicicleta. Não diria que foi abuso de autoridade porque os policiais não tiraram proveito próprio da ação, mas acabaram prejudicando inocentes, que, dependendo, podem até recorrer à Justiça pedindo indenização.

A socióloga Julita Lengruber, da Universidade Cândido Mendes, também ficou espantada com o método da polícia:

— Foi um desrespeito aos direitos básicos da cidadania. Fizeram isso porque quem mora no morro não tem voz nem vez. Se houvesse denúncia de meninos de classe média usando suas bicicletas para fazer furtos, será que a polícia invadiria um condomínio para apreender os veículos? Puseram toda a população pobre sob suspeição — avaliou Julita Lengruber.

Presidente da Associação de Moradores do Alto Leblon, Evelyn Rosenweig criticou ontem a operação:

— Não adianta, estão enxugando gelo. É preciso aumentar o efetivo, polícia na rua inibe os crimes.

Segundo a Polícia Militar, de janeiro a junho deste ano foram registrados 60 assaltos praticados pela gangue da bicicleta, contra 57 em todo o ano passado. Dez suspeitos foram interrogados, mas nenhum preso.

A última vítima dessa modalidade de assalto foi o programador de computadores Rodrigo Rangel Neves, de 26 anos. Na sexta-feira, ele foi baleado de raspão na nuca ao reagir a um assalto na Rua Barão da Torre, em Ipanema. O rapaz estava caminhando com o celular na mão quando foi abordado por um ladrão que estava numa bicicleta. Rodrigo se recusou a dar o aparelho e foi baleado. Medicado, ele foi liberado no mesmo dia.

Fonte: Jornal o Globo


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