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Opinião - Por que os atletas profissionais estão tomando pau no Zwift?

Mesmo em corridas com pesos e alturas reais, atletas profissionais de ciclismo não estão vencendo nas provas virtuais

Com a quarentena para tentar conter a progressão do Coronavírus ao redor do mundo, e principalmente na Europa, muitos atletas profissionais do WorldTour migraram para o Zwift não só para manter o treinamento em dia, mas também para participar de competições virtuais. Dentre os grandes nomes do esporte, atletas como Mathieu van der Poel, Alex Dowsett, George Bennett, Ben Swift, Thomas De Gendt e muitos outros tem botado as caras nas provas virtuais - muitas vezes, com resultados bem abaixo do esperado para um atleta do nível mais elevado do esporte mundial.

Van der Poel no Zwift
Van der Poel no Zwift

Em um recente vídeo em sua conta do Youtube, Alex Dowsett afirmou que as corridas virtuais são mais duras do que tentar o record da hora - ele foi detentor da melhor marca, com a média de 52.937km, em 2015.

A bem da verdade, até o momento, o único atleta profissional que se deu bem na plataforma virtual foi o triatleta Lionel Sanders, que venceu uma competição no Zwift com um ataque "a la Peter Sagan", nas subidas de Richmond, palco do mundial de 2015.

Na mesma prova, Mathieu van der Poel perdeu a roda do pelotão logo no início da disputa para não mais se recuperar. Vale destacar que a Alpecin-Fenix, equipe do atleta, estava presente em massa e que ninguém do time chegou entre os 10 melhores.

Sanders vence uma corrida no Zwift



Abaixo, confira os principais motivos para isto estar acontecendo:

Outro tipo de corrida

Tirando o elefante da sala: sim, existe muita gente que "rouba" no Zwift, colocando um peso mais baixo ou uma altura menor no avatar, ambas medidas que aumentam a velocidade no jogo. Porém, no caso de muitas corridas, os pesos e alturas dos atletas são controlados. Sim, o mundo das corridas virtuais de alto nível, assim como muitos outros e-sports, são bem controlados e com regras e órgãos de controle de "doping virtual" como a ZADA, que proporcionam uma boa dose de igualda entre os competidores - ao menos em provas de maior destaque.

Sim, nas corridinhas que você marca pelo aplicativo a coisa é diferente. Apesar disso, claramente em algumas provas menores disputadas por alguns pros, existiam "cheaters" presentes.

Porém, muito mais do que isso, uma corrida no Zwift é completamente diferente de uma real. Com duração entre 30 e 50 minutos, uma "race" sempre começa com um sprint em alta potência, ruma para a formação de um bloco na frente que roda extremamente rápido e, geralmente, termina também em sprint.

Ataques longos e começo devagar são coisas que praticamente não existem. As chances de um ataque solitário vingar é muito baixa, algo não compreendido por muitos ciclistas profissionais como Ben Swift, que gastou um monte de energia para buscar uma fuga, de forma desnecessária, nesta corrida analisada por Chris Pritchard.



Como alguns atletas profissionais já destacaram, correr na estrada envolve muito mais do que correr no Zwift, principalmente por conta das longa horas que as provas profissionais costumam durar e das estratégias.

Na prova realizada pela Ineos, em que só correram atletas profissionais, a dinâmica da competição foi bem diferente. O pelotão começou em baixa velocidade e, alguns minutos depois, uma fuga se formou - algo super hiper raro de acontecer em uma prova com atletas especializados em corridas virtuais.

Outro tipo de treinamento

Caso você não saiba, existem equipes e atletas totalmente focados em correr no Zwift, inclusive com patrocinadores e dinheiro rolando. Logicamente, estes atletas treinam com o objetivo de encarar as competições virtuais. Com certeza, pedalar 40 minutos em potência máxima exige uma preparação completamente diferente da de um ciclista pro, que passa horas e horas em cima da bicicleta durante uma competição.

Falta de equipamentos melhores

Embora a maioria dos pros tenham excelentes rolos de treino, não é incomum que eles utilizem computadores ruins e até mesmo o celular para competir no Zwift, o que pode dificultar as coisas. Além disso, por algum motivo inexplicável, muitos deles não utilizam ventiladores, que mesmo em dias frios são fundamentais para evitar o super aquecimento.

Localização

Um fator importante é que alguns ciclistas profissionais vivem em altitude. Este é o caso de Dowsett, que vive em Andorra e de George Bennett.

"Não consegui fazer um TOP 10 em uma corrida, o que é meio deprimente. Elas são muito duras. O fato de viver a 2 mil metros também não ajuda", disse Bennet em um recente entrevista.

Alex Dowsett em sua primeira prova virtual



Não saber jogar

O Zwift, como qualquer outro jogo, tem suas nuances e curvas de aprendizado. Apesar de não ser muito complicado, pequenas coisas como saber andar no vácuo mudam completamente a quantidade de força que você faz.

Vácuo - No Zwift, andar de roda é diferente, já que você pode seguir alguém que está produzindo 4w/kg andando com uma faixa de potência que vai de, digamos, 3.2w/kg até 4.2w/kg. Aprender a rodar com o mínimo possível de potência sem sobrar exige observação, paciência e prática - até porque esta faixa muda com a velocidade.

Io-io - O fato acima gera algum muito comum em inciantes no Zwift, que é o io-io no pelotão. Nele, a pessoa faz força de menos e acaba indo para a rabeira. No desespero, o ciclista aumenta a potência e vai parar lá na frente. Com o susto, ele reduz demais a potência e volta para a rabeira - repita mil vezes durante uma prova e gaste toda sua energia.

Sobradas - Diferente da vida real, você não pode sobrar do pelotão no Zwift. Como o vácuo é super-forte, um pelotão é muito mais rápido do que um grupo pequeno ou um ciclista sozinho. Com isso, mesmo gaps pequenos de 5 ou 10 metros não podem ser recuperados se o pelotão estiver andando rápido. Aparentemente, foi numa sobrada dessas que Mathieu van der Poel se deu mal.

Pancadas nas subidinhas - Não existe subida sem acelerações em provas do Zwift, seja ela no começo, no meio ou no fim da prova.

Pedale sem parar - No Zwift, você só para de fazer força se a descida for muito inclinada. Via de regra, você vai pedalar do começo ao fim da prova, quase sempre fazendo muita força.

PowerUps - Os "poderes" possuem funções diferentes e horas certas para serem usados. Eles criam uma estratégia própria do jogo, que nem sempre é compreendida pelo atleta pro.

Percursos - É muito importante conhecer bem o percurso onde as provas são realizadas para se preparar para fazer força ou usar um PowerUp na hora correta. Saber onde estão as linhas de chegada e sprints também é importantíssimo.

Não conhecer o equipamento

Todo rolo de treino tem suas nuanças, principalmente na forma e no tempo que a resistência demora para reagir em uma subida ou descida, por exemplo. Isso quer dizer que existe uma forma correta de trocar as marchas e fazer força para não perder o trem, mas ela é diferente do que seria na vida real, e isso faz diferença na energia que você gasta.

Diferença de interesse

Um atleta profissional está interessado em corridas profissionais. Por isso, talvez vencer uma prova virtual não seja lá o maior interesse da vida do cara. Porém, ao menos nas corridas que observamos, sempre ficamos com a impressão que os pros estavam acelerando de verdade - isso pode ser bem observado nos vídeos do Donsett.

Mesmo assim, não podemos afirmar que eles fizeram 100% de esforço, então este fator é uma incógnita

Conclusão

Sim, os atletas do ProTour são os mais fortes e melhores ciclistas do mundo, nas condições em que eles estão acostumados e treinam para correr. Com certeza, com o treinamento e conhecimento adequado, além de condições maiores de igualdade, muito provavelmente eles também se destacariam nas corridas virtuais.

Porém, atualmente, existem outros atletas focados totalmente em provas do Zwift, com centenas e centenas de horas de experiência na plataforma virtual. Com isso, ao menos por enquanto, o atletas do pelotão mais badalado do ciclismo estão em desvantagem. Até porque, o objetivo deles é manter a forma para as corridas reais que devem voltar a acontecer em alguns meses.


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