Recentemente fizemos um artigo explicando um pouco mais sobre a popularização das mountain bikes elétricas . Um dos pontos recorrentes e de maior polêmica é se essa tecnologia é desnecessária, faz “perder a graça” e beneficia apenas os preguiçosos.
Sim, é óbvio que com a bicicleta elétrica o esforço ao pedalar é drasticamente reduzido. Porém, a questão não é tão simples assim. Ficamos alguns meses com uma Specialized Turbo Levo - Veja o que descobrimos!
Nas E-MTB é preciso pedalar
Sem acelerador - A pedalada é assistida
Quem nunca andou numa bike assim, pode achar que é só girar o acelerador e curtir o rolé. Porém, até o momento, as bicicletas elétricas para mountain biking não possuem acelerador. O motor é apenas acionado ao pedalar, dando uma ajuda de acordo com a força que você faz nos pedais. Ou seja, se vocês quiser andar mais rápido, vai ter que fazer mais força.
Limitador de Velocidade - Pra andar rápido é preciso suar!
Por lei, essas bikes possuem um limite de velocidade e a força do motor é interrompida em geral em 25 km/h. Então, para andar mais rápido que isso, é preciso fazer mais força que uma bike tradicional.
Mais leve ou mais pesado ? Você escolhe!
Essas bikes contam com diferentes modos de força, algumas vezes configuráveis. Você pode configurar para que o motor ajude com apenas 5% da força máxima por exemplo. Como essas bicicletas são pesadas, em geral mais de 20 kg, você pode optar por fazer mais força que uma bike normal.
Pedalando Forte
Não se engane, o motor não faz tudo por você. Quando o terreno inclina pra cima, ele não te coloca na velocidade máxima, a força é dosada e você vai precisar pedalar mais forte. E ainda assim, ao passar dos 25km/h o motor é cortado e é você que tem que levar os mais de 20kg de bike.
Fizemos um teste interessante, na subida da Vista Chinesa no RJ. A ideia era tentar fazer o melhor tempo possível, nessa subida de pouco menos de 4 km com média de 9% de inclinação.
Conseguimos o KOM no Strava (melhor tempo), com 10:18, apenas como uma curiosidade. Mas o interessante é que apesar do tempo curto, os batimentos cardíacos foram bem próximos de uma subida forte com a bike de speed, onde faço quase o dobro do tempo. Comparando as médias de tempo, a vantagem não chega a ser o dobro, mas chega a ser uns 70% mais rápido nessa situação.
Apenas para deixar claro: o Strava separa os rankings de bicicleta elétrica e das tradicionais. Então, não "roubamos" os tempos de ninguém nas nossas experiências! :)
Desligando o Motor
Um outro teste muito interessante que fizemos, foi andar na bike com o motor desligado. Novamente na subida da Vista Chinesa, marcamos o tempo de 41:40 minutos no Strava: mais de 4 vezes mais do que no Modo Turbo. O objetivo do teste foi saber o tamanho do problema caso sua bateria acabe no meio do caminho.
Como já citamos, o motor não engrena na transmissão da bike no sentido de dificultar a pedalada. A bike funciona quase que normalmente, sendo a dificuldade apenas o peso e, no nosso caso, os pneus mais largos.
Isso abre a possibilidade não só de um treino propositalmente mais forte, mas também de economizar bateria em parte do trajeto. Quer fazer um rolé longo ? Que tal começar sem usar o motor pra aquecer e ter bateria apenas no final do rolé quando você está exausto ?
Vale lembrar que se for em uma trilha técnica e lenta que precise de explosão, pedalar com o motor desligado fica quase inviável! Pelo menos com a tecnologia que temos hoje.
Treinos técnicos
Nem todo mundo tem o privilégio de ter trilhas perto de casa, especialmente nas grandes cidades. Em alguns casos dá para ir até elas pedalando, mas é um caminho longo e que vai gastar muito tempo ou energia até que se chegue.
Mas com as bikes elétricas é possível minimizar muito esse tempo e esforço, priorizando assim as trilhas, partes técnicas ou trechos de descida. A falta deste tipo de treino me afetou quando competi meu primeiro Enduro Series. Sobrou perna e faltou explosão e técnica.
Em uma das nossas experiências com a Specialized Turbo Levo, ficamos dando voltas em uma trilha de downhill do Rio, onde a subida é íngreme e cansativa. A cada volta com uma bicicleta de Enduro tradicional, a elétrica conseguia fazer 2,5 voltas. Ou seja, o treino técnico e de descida é muito mais direcionado, pois sua exaustão vem de tanto descer e não do conjunto subida + descida, ainda mais considerando que as subidas tem uma maior exigência cardiovascular em geral.
Por ter motor, também é menos cansativo levar pra trilha uma bicicleta mais parruda, full suspension, com pneus plus e pressão baixa. Para muita gente que não tem técnica, ter uma bike assim nas mãos, facilita muito para focar num treino específico.
Treinos distantes na metade do tempo
Outra experiência interessante foi a facilidade de ir até um dos complexos de trilhas, a Floresta da Tijuca, em muito menos tempo que o normal.
Mais uma vez, nem todo mundo tem trilhas no quintal de casa. De onde moro, chegar neste local de carro, durante a semana, leva muito tempo por causa do trânsito. Pedalando é possível, mas no mínimo vai dar 40 km, com quase mil de elevação acumulada, com 70% de asfalto, o que também leva um tempo. Não parece nada demais para um atleta ou para o final de semana com os amigos, mas nem todo mundo tem 3 horas sobrando e disposição para fazer isso com frequência durante a semana.
Mas se isso fosse reduzido à metade do tempo ? Se ao invés de gastar energia no asfalto, você focasse em andar mais tempo nas trilhas ? Com a elétrica é possível!
Aspectos Sociais
Você poder pedalar mais rápido e por mais tempo te traz ainda mais uma possibilidade de treino, que é andar com pessoas mais preparados. Sabe aquele treino forte de 4 horas com a galera mais forte ? Agora é possível.
E por outro lado, você também pode ter levar um amigo que nunca pedalaria no seu ritmo para conhecer um pouco do seu rolé. Fizemos esse teste também por aqui - conseguimos pedalar 50 km, acumulando mil metros e levando em torno de 4 horas.
Conclusão
Somos todos preguiçosos
Todo esse papo de “brutalidade” é muito legal. Mas quantas vezes você já furou um treino ? E aquela semana depois de uma competição pesada ? E quando você acorda indisposto e o que você combinou com seu grupo é um rolé longo e exigente ? E como é sua motivação depois de uma lesão ou quando acabou precisando ficar muito tempo sem treinar ?
Tenho certeza que você se identificou com alguma das situações. Agora imagina poder sair de casa sabendo que você pode pegar leve na hora que quiser e se o corpo reclamar, poder facilitar as coisas ? O que é melhor ? Treinar leve ou não treinar nada ?
Para André Bretas, Campeão Brasileiro de Enduro, andar de e-MTBs “é simplesmente pegar a parte mais divertida das trilhas e colocar tudo junto do inicio ao fim. Fico maravilhado com o leque de possibilidades pro mundo das bicicletas.”
Na nossa experiência, as mountain bikes elétricas fazem o ciclista comum treinar mais! E se jogarmos treinos de lado e falarmos apenas de diversão, não há questionamento que é uma das maiores revoluções dos últimos tempos.
Vídeo - Entendendo Mountain Bikes Elétricas
Veja também o vídeo que preparamos falando um pouco mais das Bikes Elétricas:
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