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Inacreditável! Ciclistas e responsabilidade social

- Motorista tropical 1:

Há uns 100 metros de distância uma jovem e bela mãe cruzava tranqüilamente a avenida empurrando um carrinho de bebê. Era início da manhã de um domingo de céu encoberto e não havia praticamente ninguém nas ruas. Abriu o sinal e os dois únicos carros arrancaram. Um no ritmo daquela manhã: lentamente. O outro, um Audi, acelerou forte. Estava há uns 150 metros da mãe e o carrinho. Ela apressou o passo. O Audi seguiu mudando marchas e acelerando. Quando chegou perto da mãe mudou sua trajetória e tirou uma fina da bunda da mãe.

- Motorista tropical 2:

Circula pelos Jardins, área nobre de São Paulo, uma Porsche Cayenne com placas de Fernando de Noronha (com segurança acompanhando - quando consegue). É uma pequena sutileza.

- Motorista tropical 3:

O trânsito está infernal, quase parado. Vem descendo a Avenida 9 de Julho, no trecho de quatro pistas, um Jaguar XJ (o maior deles) em alta velocidade. Contorna por fora dos carros para dobrar a esquerda, dá uma rápida freada e invade a pista central com sinal vermelho. Dentro há uma jovem loira ao celular. O carro com os seguranças fecha todos os carros que estejam próximos, não só os que esperam o sinal abrir, mas também todo o trânsito das pistas central e lateral para que a madame possa seguir tranqüila sua viajem. Ela arranca rápida e freia furiosamente no próximo sinal. Os seguranças logo chegam e empurram os outros carros para que madame siga sua viajem. Eles desaparecem no meio do caos.

- Motorista tropical 4:

Uma Mercedes 600 pára e seu carro de segurança, quase colado atrás, fica em cima da faixa de pedestres. O trânsito está completamente parado. O sinal de pedestres abre e começo a andar para cruzar a rua. Um dos seguranças mostra a arma para evitar que eu passe entre os dois carros.

- Motorista tropical 5:

- "Multa porque eu tenho dinheiro para pagar e não vai fazer a mínima diferença". Frase dita por um abonado motorista a um soldado da Polícia Militar aqui em São Paulo.

- Ciclista ?

Na Cidade Universitária (USP) um corredor (a pé) reclama da falta de cortesia de um ciclista que treinava e quase o atropelou. O ciclista ouve, volta e espanca o corredor.


- Faça sua opção:

Na Europa os infratores de trânsito “normais” correspondem a uma média entre 10% e 15% dos motoristas, o que é mais ou menos a mesma situação do que temos aqui no Brasil. Somos todos humanos. A maioria é da paz e procura ser civilizada.

Não sei bem qual é o índice ao qual corresponde este pessoal que descrevi acima, os que vão muito além do mau motorista e partem para a barbárie, mas muito provavelmente é muitíssimo mais alto aqui no Brasil que em qualquer país minimamente civilizado. Prepotência é fator humano, faz parte, mas nestas terras tropicais é fator de orgulho. E infelizmente continua sendo.

O deprimente destas histórias é que são justamente elas que servem de exemplo para boa parte da população menos abastada sobre quem é nossa elite. O "todo rico é ladrão" corre boca à boca; e daí para fora. Infelizmente a elite pensante deste país de certa forma abaixou as calças, só não consigo saber bem se para fazer pipi ou côcô, e se ausentou das tomadas de posições deste país. Deixou de ser o exemplo. Por alguns são tomados como trouxas. Deveriam ser o exemplo; não a turma do "sai que eu quero passar e você que se foda!". É a opção entre construir um país, um futuro, ou o apoio a política da terra arrasada.

Se você abriu este site e procurou ler alguns dos artigos, você é a elite do mundo da bicicleta. Parabéns por informar-se. Mas isto lhe empresta uma responsabilidade social tremenda.

Temos, nós ciclistas, importância absolutamente estratégica no estabelecimento de uma política de justiça e equilíbrio social. Podemos ser fator crucial para a diminuição da miséria. Escolha sua turma.


Arturo Alcorta


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