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Giro d'Italia 2017 - Opinião - Competição de mais rápido na descida é irresponsabilidade

Quem acompanha o Pedal.com.br sabe que nós nunca deixamos nossas opiniões pessoais transparentes em nossas matérias. Afinal, como veículo de comunicação, manter a imparcialidade é fundamental e isto está em falta em boa parte da mídia mundial.

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Ilnur Zakarin depois de tombo no Giro

Porém, o anúncio que o Giro d'Italia 2017 contará com premiações para os atletas mais rápidos na descida apenas um dia depois da morte de Chad Young, que faleceu em decorrência de um tombo sofrido durante uma descida no Tour de Gila, me deixou de queixo caído.

Não me entenda mal, eu ADORO descer rápido e também fico com os olhos vidrados quando o pelotão mergulha ladeira abaixo em alta velocidade. Também me considero um ciclista rápido na descida e acho super válido ataques ladeira abaixo, momentos de verdadeira maestria e certamente uma grande arma no arsenal de qualquer campeão.

Todavia, em um esporte tão perigoso e que já sofreu com inúmeras fatalidades e acidentes gravíssimos, será que realmente é correto a organização estimular com grandes prêmios em dinheiro uma competição de descida?

Quem já se inscreveu em qualquer prova de bicicleta certamente assinou um documento isentando a organização da responsabilidade de qualquer acidente ocorrido na prova, e no Giro com certeza não é diferente. Por isso, é correto a organização oferecer 5 mil euros para atletas descerem rápido em uma situação que tende a ser insegura?

Ciclismo Vs. Downhill

Diferente de uma prova de downhill, modalidade do MTB em que ganha quem desce no menor tempo, um ciclista de estrada não usa colete, capacete full face e demais proteções no corpo. Além disso, na estrada não existe proteções como colchões em árvores em trechos perigosos e outras mediadas comumente encontradas em competições de downhill - isso para não falar em guias, postes, árvores e muros ao lado da estrada.

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Pequena diferença de proteção

Na estrada, é bastante comum um atleta superar a marca de 100km/h em descidas, o que somado a pneus finos e projetados para ter o mínimo de arrasto calibrados com altíssimas pressões tornam qualquer descida rápida um verdadeiro desafio.

Ciclistas de estrada não fazem reconhecimento prévio das descidas e, pelo máximo que façam, basta uma simples mudança de tempo para mudar completamente a situação do asfalto, tornando a descida algo bastante imprevisível. Pra completar, um tombo no asfalto costuma resultar em machucados muito maiores do que os na terra.

Em uma prova de downhill , a pista é aberta com vários dias de antecedência antecedência para reconhecimento, os atletas descem a pé, depois temos dois ou três dias de treinos, a qualificação e só depois a final - e mesmo assim os tombos são inevitáveis.

Fatalidades e muitas lesões sérias

O ciclismo de estrada é um dos esportes mais arriscados do mundo e isto não é novidade para ninguém. Basta lembrar que ainda na semana passada o ciclista Chad Young faleceu em decorrência de um tombo sofrido durante uma descida no Tour de Gila.

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Chad Young, morto há alguns dias no Tour de Gila

Em 2011, o belga Wouter Weylandt faleceu no Giro d'Italia ao colidir de frente em um muro de pedras no Passo del Bocco. Em 1995, o italiano Fabio Casartelli também morreu ao colidir com o bloco de concreto no Tour de France.

Nas olimpíadas do Rio, Annemiek van Vleuten sofreu uma séria queda perto do fim da prova de estrada e, por sorte, ficou "apenas" algumas semanas hospitalizada.

Os três nomes acima representam uma pequena parcela de muitos tombos graves que já causaram lesões sérias e incapacitantes em atletas profissionais. Se nós começarmos e enumerar todos aqueles que sofreram lesões sérias, pode ter certeza que a lista teria mais de 100 nomes.

Conclusão

Embora descidas em alta velocidade sejam comuns no ciclismo e o risco seja inerente ao esporte, estimular ainda mais situações perigosas em nome do "show" é uma atitude de desrespeito com o atleta, que acima de tudo é um ser humano que tem família e amigos.

De fato, ninguém é abrigado a participar da "brincadeira", mas com 10 mil euros em jogo, certamente alguns tentarão a sorte nas tortuosas estradas italianas, tudo com a organização se isentando de qualquer responsabilidade.

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Red Bull Road Rage, prova de descida na estrada

Agora me pergunto: se algum atleta cair, se machucar ou até morrer, o "espetáculo" terá valido a pena? Não seria mais inteligente deixar descidas cronometradas para competições específicas como o Red Bull Road Rage ou a Copa do Mundo de Downhill? Nós queremos ver cenas como as dos vídeos abaixo se repetindo com mais frequência? Gostaríamos muito saber sua opinião.

CUIDADO AO ABRIR OS VÍDEO ABAIXO, CENAS CHOCANTES

Tombo fatal de Wouter Weylandt



Tombo fatal de Fabio Casartelli



O tombo de Annemiek Van Vleuten





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