TÓPICO FIXO PARA AUDAX

É triste ver este tópico, que já foi um dos mais ativos, assim tão deserto. Será que a modalidade não interessa mais? No sul do Brasil as provas BRM reúnem várias centenas de participantes. Em SP as provas não retomaram o ritmo pré pandemia, quando as inscrições esgotavam em uma hora. Para onde foi todo mundo?

Conforme já escrevi em outros posts neste tópico, aprendi muito lendo as experiências dos outros e então coloco a minha para contribuir um pouco com essa "base de conhecimento"

No último dia dez de junho de 2023 participei do BRM 200 organizado pelo Randonneurs Litoral na cidade de Bom Jesus dos Perdões, cerca de 90km da capital paulista. Como era um feriado prolongado, ao mesmo tempo também rolava a prova de 1000 km, com largada na quinta dia 08. A largada foi numa chácara bastante agradável que também servia de base para os ciclistas do 1000. Para chegar na chácara, havia um trecho em terra de 300m. 

Cheguei por  volta das 5:30 para vistoria e largada, que aconteceu as 6:15. O frio era de uns 14 graus que pareciam 8. Estava estreando a bike nos brevets, trocando minha mtb com pneus 38 por uma estradeira com pneus 28. Por causa das dores no pé,  já havia decidido não usar sapatilha no brevet de 2022 e dessa vez abandonei também o firma pé. Usei um tênis slip-in, esses sem cadarço e com um elástico, que são extremamente leves e confortáveis. Usei um bretelle anunciado como "endurance" com o pad devidamente untado com vaselina, uma camisa de ciclismo com meio zipper e manguito. A bike tinha 2 caramanholas, uma de 1l outra de 650ml, uma bolsa de quadro tipo tanque e outra de selim.  Na iluminação, um farol desses que vêm com um pack de 6 baterias recarregáveis e 2 lanternas traseiras alimentadas com pilhas AAAA e são as únicas que duram mais de 12 horas. A fita refletiva em X por cima do torso completava o setup. 

Para comer durante a prova, além do que era oferecido pela organização, levei 4 sachets de gel, dois pães doces, um doce de amendoim, umas balas de goma com palatinose e pela primeira vez testei  algo novo: dois ovos cozidos.

Começada a prova, o pelotão de mais ou menos 20 ciclistas saiu em velocidade moderada e assim foi até o PC1, lá pelo km 70, pedalando quase 100% por acostamento. Parei para esperar um amigo que furou pneu e aproveitei para mandar p dentro o primeiro sachet de gel. A navegação foi fácil pois conhecia um pouco a região e ainda antes de chegar, aproveitei umas subidas mais longas para comer os 2 pães.  Fui um dos últimos a chegar no PC1 onde comi um dos ovos, enchi uma caramanhola de água e tomei quase 1 litro de isotônico. Parti para o PC2 no km 100

O caminho até o km 100 foi bem duro por várias razões. O percurso atravessava duas rodovias muito importantes de SP. Um monte de entradas e saídas por onde carros e caminhões passam sem a menor possiblidade de negociar a passagem. Na ida e na volta em quase todas eu parei e desci da bicicleta para atravessar a pé. A essa hora o sol já dava uma amostra do que seria durante todo o dia e começou a desgastar muito. O PC2 seria virtual, uma foto de uma placa na estrada que nunca chegava. O clima seco e o sol inclemente me desgastaram muito. Cheguei, bati a foto e devorei mais um ovo cozido. Voltando rumo ao PC3, parei em um restaurante para tomar algo gelado. Encontrei gatorade, coca-cola 600ml em garrafa de vidro e um salgadinho vagabundo sabor pizza que me deu um pouco de arrependimento, mas devorei. Randonneur tem que ter estômago de avestruz. O sol castigava e ainda parei numa sombra para me refrescar um pouco. Acho que fui o penúltimo a chegar no PC3. 

No PC3 eu estava bastante cansado, era o km 170 e começa a bater a dúvida se iria conseguir ou não. Conhecia o caminho do brevet do ano passado e sabia que seria duro. Comi pouco nesse PC, apesar da parada longa. Decidi apelar, tomei um analgésico e a segunda cápsula de cafeína, o que foi uma decisão acertada, pois estava cheio de dores que desapareceram. Ano passado fui deixando p depois e a cafeína poderia me ajudado. Acho que fui o último ou penúltimo a sair e fiz algumas paradas nas sombras por conta do sol. Me lembrava de uma subida para alcançar a rodovia do útimo trecho. Superei  bem e cheguei no acostamento da rodovia D. Pedro onde a noite me pegou. Alguns imprevistos  acabaram me atrasando muito. A cada parada inesperada aproveitava para comer uma das balas de goma que ainda restavam e que me deram uma boa energia para continuar.

O tempo folgado que eu tinha para terminar havia se transformado em atraso. Acelerei o máximo que pude pois no escuro, não conseguia olhar quanto tempo restava. Um trecho em obras exigiu que eu descesse da bike e esperasse a passagem dos carros e caminhões. Qualquer vacilo alí seria fatal. Chegando na cidade, era preciso vencer uma subida bem forte, precisei empurrar pois a relação na estradeira não é como na mtb e depois de quase 200km fica muito difícil. Não conseguia olhar quanto tempo ainda tinha então decidi dar o máximo. Enfrentei o trecho de terra como se estivesse na mtb e cheguei no portão da chácara gritando "chegueeeeeei, parem o relógio!!" e subi uma última rampa empurrando. Estava ofegante e quase morrendo quando me disseram que ainda restavam 8 minutos. Brevetei

É inegável a vantagem da estradeira sobre a mtb. Mas tem alguns pontos em que a mtb apresenta vantagem. Nas descidas a noite, a mtb com suspensão não toma conhecimento de nenhum obstáculo nos acostamentos das estradas e essa segurança aumenta a velocidade. Já na estradeira, as pancadas são bem fortes e o receio de um buraco quebrar o garfo ou furar os pneus acaba fazendo com que a velocidade seja bem contolada nas descidas. Mas cheguei mais inteiro com a estradeira do que quando fiz com mtb. Minhas opção por tênis e pedal plataforma se revelou acertada, pude variar um pouco a posição dos pés, bem como a posição das mãos no guidão drop. Isso é muito importante em uma prova longa.  Que venham os próximos e quem sabe o 300.