Olá, entre 04/01/16 e 06/03/16 viajei 2600km entre Puerto Montt e Ushuaia numa Caloi supra que imagino ser de 2002, pois comprei usada e não tenho certeza quanto ao ano, e acredito que seria de utilidade do fórum as informações que coletei quanto aos equipamentos utilizados nesta viagem. Irei me resumir a bicicleta para não perder o foco do fórum. 1- Em relação a bicicleta: como já dito, a bicicleta foi comprada usada, no olx, por 600 reais, veio em boas condições pois o dono antigo não dispunha de tempo para pedalar. Na época eu não tinha tantos conhecimentos técnicos sobre bicicletas e muito menos o dinheiro para comprar uma adequada as minhas necessidades, então tive que adaptar o que tinha.
2- Em relação as modificações: após um 6 meses de uso decidi que iria fazer a patagônia com a bicicleta e comecei a estudar quais melhorias deveria fazer para garantir minha viagem e aqui vão minhas impressões:
-O movimento central foi trocado por um shimano UN26 selado (a troca foi feita mais de um ano antes da viagem e já deve ter mais de 4000km). Nunca tive problemas com o movimento anterior mas li em fóruns que era um genérico simples e não quis correr riscos. Até agora continuo com o movimento central sem problemas.
-A suspensão foi trocada por um garfo rígido Mosso. Esse é um tópico que merece uma atenção especial. Durante a viagem encontrei ciclistas dos mais variados países viajando com e sem suspensão, todos com bicicletas infinitamente mais caras que a minha, e pude chegar a uma conclusão que acredito ser bem consistente. A suspensão é TOTALMENTE DISPENSÁVEL quando o intuito a viagem é... viajar? A verdade é que vi suspensões com trava quebrada (Rockshock), com retorno extremamente lento e algumas que já não tinham mais nem recuperação. O que acontece é que quando carregamos a bicicleta de equipamentos e pedalamos em estradas de terra por 6+ horas a velocidade media se torna muito baixa para que a suspensão faça alguma diferença, de quebra pegamos chuva, lama e subidas o suficiente pra exigir uma manutenção diária a qual os ciclistas não estavam dispostos a realizar (ou não possuíam as ferramentas, afinal, peso pesa bastante =B). Outro motivo pertinente e desfavorável as suspensões é o peso mas essa parte eu vou explicar com mais detalhes mais na frente. Por fim, não é atoa que as bicicletas Surley, famosas para cicloturismo, não possuem suspensão!
-O guidao original de MTB também foi trocado por um borboleta por conta do meu bikefit. Como disse, essa bicicleta não foi a ideal mas a que tinha disponível, por conta disso coloquei o guidão borboleta para trazer os manetes mais próximos ao meu corpo e tentar contornar o problema do quadro grande demais para mim. Sobre o guidão, ele junto com as luvas acolchoadas foram as minhas suspensões pois as vibrações do terreno eram amenizadas. O formato longo e curvado do guidão borboleta pode proporcionar mais do que diferentes pegadas, ele também pode ser um aliado na dissipação de vibraçõesdo solo.
-Os freios foram substituídos por V-breaks shimano Altus e pastilhas de alta qualidade para chuva e lama. Esse ponto obviamente levanta a questão "V-break vs Disco" para cicloturismo e o máximo que posso deixar aqui é a minha OPINIÃO. Hoje, SE eu tivesse milionário, compraria um freio a disco hidráulico da melhor marca e colocaria na minha bicicleta. Hoje, tendo um orçamento apertado, eu estou montando uma nova bicicleta para cicloturismo com freios V-break. É clara a eficiência dos freios a disco, principalmente em chuva, em relação aos v-breaks, mas o que define o uso de um componente é o custo-benefício e não simplesmente sua eficácia. Os freios V-breaks de qualidades são mais baratos, tem mais fácil manutenção e possuem uma maior facilidade de reposição de peças (sim, quando você tá no meio de lugar nenhum é melhor precisar comprar uma sapata de freio V-break do que um disco de freio) e são mais que suficientes para o uso em cicloturismo (uso não competitivo). Caso você disponha de dinheiro e o conhecimento técnico para utilizar um freio a disco de qualidade, USE!! Equipamento bom junto com conhecimento técnico não vão te deixar na mão. Se você pode pagar então por que não usar?
-Os pedais foram trocados por um modelo de plataforma rolamentados. Recomendo modelos rolamentados e que não sejam de plastico por motivos óbvios.
-Um velocímetro chines de R$ 8 foi utilizado. Era útil saber a quilometragem rodada, que estava por rodar, velocidade media, velocidade instantânea entre outros, isso te ajuda a planejar a viagem e ter noção do seu desempenho pessoal. O velocímetro morreu 2 semanas antes do fim da viagem, ainda não sei se por falta de pilha ou se por morte "morrida", não procurei saber ainda, mas recomendo um velocímetro um pouco mais confiável.
3 - Em relação ao sistema de transmissão: catraca, corrente e coroa foram trocados 1 semana antes da viagem por conta do desgaste natural destas peças. A corrente e a coroa instaladas foram iguais as originais (48-38-28), a catraca nova era uma MegaRange (14-34t). Esse é um outro ponto que merece atenção especial, afinal, qual a relação ideal para cicloturismo? O corpo humano funciona como um motor e, como tal, possui um ponto de máxima eficiência que está por volta de 1 pedalada completa por segundo. O sistema de marchas ajusta a relação velocidade X aceleração de modo a manter o ciclista em sua máxima eficiência durante todo o percurso. Estabelecido o ponto de funcionamento do ciclista, devemos agora estabelecer as velocidades máximas e minimas desejadas para a bicicleta. A velocidade mínima para uma bicicleta de cicloturismo deverá ser baseada na velocidade de caminhada de uma pessoa (+ ou - 3,7km/h), afinal, se pedalar é mais devagar que caminhar então compensa mais subir a ladeira empurrando. Agora vamos para a matemática: (menor relação) 28/34 = 0,82 o que significa que na relação mais baixa uma volta completa do pedivela faz o pneu traseiro rodar 82% de uma volta completa (menos que uma volta completa). Como meu pneu tinha uma circunferência de 2,05m * 0,82 = 1,68m/s que é a mesma coisa que 6km/h. Pode-se notar que seria melhor se houvesse uma outra relação ainda mais leve, que me permitisse seguir a 5km/h. De fato, durante a viagem eu senti falta de uma relação mais baixa para subidas longas e ingrimes mas devo dizer que a catraca MegaRange é uma alternativa MUITO BOA E BARATA para cicloturismo!! Agora, para determinar a velocidade máxima devemos seguir o mesmo processo: (maior relação) (48/14)*2,05m= 7,03m/s = 25,3km/h. Confesso que também senti a necessidade de um pouco mais de velocidade quando cheguei na argentina e tive estradões de asfalto com vento a favor, seria bom ter um pouco mais de relação para atingir velocidades mais altas. A conclusão que chego é que uma relação de 24 marchas com MAX 48/11 e MIN 28/36 seja algo mais eficiente PARA ARO 26, creio que isso possa ser atingido utilizando o grupo Tourney tx800.
4 - Em relação aos câmbios: Sistema original shimano Tourney da década passada!!!!!! Sim!! E digo mais, sem NENHUM PROBLEMA!!! Isso de "Acera pra cima" é coisa de fresco (briks =P). Brincadeiras a parte, fiz uma manutenção no câmbio depois de 1300 km rodados e só. Recomendo o shimano Tourney tx800, que é a nova geração tourney com 24v pois acredito que atualmente essa seja a melhor relação custo X beneficio em termos de cicloturismo. Acredito também que 24v tenha a melhor relação custo beneficio PARA CICLOTURISMO, independente da linha, uma vez que ao aumentar o numero de velocidades, também se aumenta custos de corrente, cambio e cassete.
5 - Em relação as rodas: desde que comprei a bicicleta, já usada, utilizo pneus Kenda semi slick 1.95, aquelas com o meio liso e as laterais com cravo. Utilizei esses pneus por 1 ano treinando e durante toda a viagem sem troca-los. Atualmente o pneu traseiro apresenta uma rachadura grande e precisa ser trocado, não sei se isso ocorreu devido ao peso durante a viagem, por variações de temperatura ou por má qualidade da borracha utilizada mas quanto a sua eficiência, digo que foi muito bom em todos os terrenos que peguei durante a viagem. Hoje, planejo testar novos pneus,híbridos, pois gostei da eficiência em diferentes terrenos.
6 - Em relação aos bagageiros: cometi o erro de utilizar um bagageiro de alumínio caseiro que quebrou no terceiro dia de viagem rsrs.... Meu irmão concertou o bagageiro com 2 pedaços de bambu e um elástico de bagageiro de moto e assim eu cheguei até Ushuaia (hu3h3uh3u3 BRBRBR!!!). Recomendo fortemente a compra/fabricação de bagageiros adequados para cicloturismo. Infelizmente não tenho um modelo ou marca específica para recomendar uma vez que não utilizei nenhum bom. Por favor, não cometam o mesmo erro que eu!!!
7 - Em relação aos alforges: Não utilizem aqueles modelos de alforge único com varios bolsos como eu fiz, eles são descartáveis, optem por modelos em pares que possam ser removidos individualmente, de preferência frontais e traseiros. Os alforges que podem ser removidos individualmente e de maneira rápida vão facilitar infinitamente a organização e comodidade da sua viagem. Parece bobagem mas depois de 100km de pedal é muito bom tirar uma bolsa da sua bike com todos os apetrechos de dormir já prontos ao invés de se levantar a cada minuto para pegar algo que esqueceu no alforge. Vá por mim, eu não colocaria esse ponto aqui se acreditasse ser supérfluo. Outro ponto importante é quanto a impermeabilidade dos alforges, você deverá garantir que suas coisas permaneçam secas durante toda a viagem! Sabendo do preço de alforges bons, aqui vão minhas dicas:
-Faça você mesmo: há tecidos impermeáveis de qualidade no mercado, assim como lonas de caminhão ou aquelas utilizadas em banners, acredito sim ser possível fazer um alforge de qualidade utilizando esses materiais pois já vi outros ciclistas fazerem o mesmo -Compre aqueles alforges chineses que eu recomendei que não comprassem. Eles são descartaveis mas podem ser utilizados com bastante eficiência em viagens de curta duração e com poucas intempéries. -Você pode utilizar sacos de lixo para manter suas coisas secas dentro de alforges não impermeáveis. -Compre tecido e faça um alforge central para o quadro da bike. Com uma posição estratégica, esse alforge não desestabiliza a bicicleta independentemente do peso que se colocar! -Caso não tenha dinheiro para um alforge+bagageiro dianteiro amarre barraca ao guidão ou garrafas de água ao garfo. É importante distribuir o peso para a bicicleta não empinar!
Essas são as dicas que me vem a cabeça nessa madrugada de terça-feira, qualquer duvida é so perguntar!
Para fotos acessem meu instagram (a)manel.drds
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