Inconsistências e contradições

Diante da insistência do vereador em contrariar e ignorar as demandas daqueles para quem, em tese, ele legisla, acredito que não faz falta aqui nenhuma nova argumentação que prove a inconsistência absoluta desse projeto de lei, que prejudica os ciclistas e a cidade. Até porque, se mesmo diante da maioria contrária o vereador não demonstrou qualquer ânimo de recuar, é evidente que o que importa para ele e seu PL não são argumentos consistentes a favor ou contra, mas outros elementos de interesse na aprovação que nos escapam ao conhecimento.

No entanto, é fundamental repetir, uma vez e outra, as inconsistências e contradições presentes na atuação de Adilson Amadeu na proposição deste projeto de lei.

Considerando que:

1. para justificar o PL, o vereador baseia-se em reportagens cujas premissas são falaciosas;
2. o verador ignora pelo menos 30 anos de discussão no Brasil sobre o uso da bicicleta como meio de transporte;
3. o vereador ignora toda a discussão internacional sobre o uso da bicicleta como meio de transporte;
4. o vereador ignora os resultados das discussões do seminário sobre mobilidade por bicicleta realizado em setembro, na Câmara dos Vereadores, pela Frente Parlamentar em Defesa da Mobilidade Humana;
5. o vereador ignora que, historicamente, os ciclistas nunca tiveram seus direitos defendidos ou garantidos de forma suficiente pelo poder público, e o poder público omisso, agora, se acha no direito de cobrar deveres dos ciclistas;
6. por fim, considerando que o vereador ignora a opinião dos ciclistas e sua experiência diária nas ruas;

Conclui-se que:
1. o vereador legisla sobre matéria que claramente desconhece;
2. o vereador não está interessado em ouvir os afetados por seu PL, visto que não acompanha, ou simplesmente ignora, a repercussão negativa da sua proposta. Do contrário, considerando que legisla para o povo e não em causa própria, teria acatado o clamor popular;
3. o vereador não é razoável ao falar em punição para ciclistas sem antes falar - e trabalhar a favor - de educação continuada para motoristas e ciclistas, que precede a punição;
4. conclui-se que, se aprovado, o PL de Adilson Amadeu representará um rotundo retrocesso na luta de mais de 30 anos pela legitimação da bicicleta como meio de transporte no Brasil. Uma luta que foi feita de muito trabalho, de embates, de pequenas e grandes conquistas e também de perdas irreparáveis. Pessoas morreram enquanto tentavam exercer seu direito legal de estar nas ruas pedalando. E não morreram por falta de capacete, de luva, de calçado antiderrapante ou de emplacamento. Morreram por causa da ignorância de quem, temerariamente, faz o que não deve; de quem passa por cima do direito do outro para ter uma vantagem momentânea; de quem age com irresponsabilidade com o volante ou com a caneta em mãos.

O PL 224 de Adilson Amadeu é uma intromissão grotesca numa luta histórica pelo uso da bicicleta no espaço urbano. Luta da qual ele não participou, que ele não conhece e que está disposto a aviltar sabe-se lá em nome do quê, ou de quem.

E concluindo: não sei onde estava o vereador Amadeu em junho deste ano, quando grandes demonstrações da força do poder popular tomaram - e continuam tomando - as ruas do país. Se ele não teve notícias do peso dessas mobilizações, da sua repercussão e potencial de transformação, deveria imediatamente se informar a respeito. Porque se esse PL for aprovado, a resposta ao vereador e àqueles que estão com ele nesta empreitada certamente não vai ser só nas urnas, mas também nas ruas.