CUBA - Relato de Viagem

		RELATO DE CUBA - finalmente!

Tres meses depois da viagem, fiz finalmente um pequeno relato sobre como foi, um mapa da rota, e um álbum com as minhas fotos favoritas.

Ainda pretendo colocar os POIs no mapa, com mais informaçoes sobre o trajeto, e o contato dos lugares onde dormi. Mas já da pra ter uma ideia!

https://photos.app.goo.gl/gAkTKCuLx9YZTR7d2

https://ridewithgps.com/routes/26674718?privacy_code=y5noPZgP7XUCODw6

Passei 23 dias em Cuba. Ao todo pedalei cerca de 1400km por diversos tipos de estradas, cidades e paisagens. Em Holguin comecei a pedalar, sentido oeste, beirando a costa Norte. De Remedios entrei para dentro da Ilha, passando por Santa Clara, e cruzei a serra do Escambray até Trinidad, de onde segui pela costa sul até Playa Larga, e daí para Havana e finalmente Vinales, onde finalizei a pedalada, e voltei para Havana de onibus.

Pedalada:

Cuba é um excelente país para pedalar - com qualquer tipo de bicicleta e independente de sua experiencia com viagens de bike. A ilha é majoritariamente plana - tem apenas tres serras, facilmente contornáveis. É fácil traçar uma rota em que o vento esteja a seu favor, o clima é quente - mas nem tanto pra quem veio do Rio. As estradas são pouco movimentadas e as bicicletas são parte integral do transito no país. As cidades são bem distribuídas e as rotas nãos exigem muito planejamento.

Como a industrialização e quantidade de carros é relativamente baixa, há pouca poluição, e nas estradas vi muito mais pássaros e animais silvestres do que nas rodovias brasileiras.

A única ressalva a ser feita é que, por conta do embargo economico, há muita dificuldade de entrada de bicicletas de qualidade e peças de reposição no país. Portanto é necessário estar bem preparado para eventuais problemas mecanicos e saber como fazer reparos e manutenção. De qualquer forma, o povo cubano é muito solícito para ajudar e especialista em gambiarras e "dar um jetinho". Então dificilmente você vai ficar a pé.

Dinheiro:

Cuba tem duas moedas: o Peso Nacional (CUP), moeda nacional em que os funcionários do Estado recebem seus salários e em que os comércios locais mais simples funcionam, e o Peso Convertível (CUC), que equivale a 1 dólar, e é a moeda que se usa para fins turísticos, como hospedagem e alimentação, e para produtos industrializados mais caros ou importados.

Lendo sobre isso, parece mais complicado do que de fato é. 1 CUC equivale a 25 CUPs. A imensa maioria dos comércios e serviços aceitam ambas as moedas. O controle economico e cambial é alto, todas as casas de cambio oficiais operam na mesma taxa e as moedas são quase sempre intercaláveis. Claro que, para uma hospedagem que custe 20 CUCs por exemplo, é muito mais fácil pagar em CUCs do que com 500 CUPs, mas no fim das contas é a mesma coisa. Comércios voltados para cubanos, especialmente cafeterias e feirantes de pequenos povoados, vao cobrar valores como 2-5 CUPs por um refresco ou café, e 5-10 CUPs por um lanche simples, então é sempre bom ter CUPs a mão.

Apesar de 1 CUC ser equivalente a 1 Dolar, há um imposto de 10% sobre a troca de dólares. Portanto é mais vantajoso levar euros. Quando estive lá, o cambio estava em 1 Euro = 1.14 CUCs. Meu gasto médio foi de 250 ~ 300 euros por semana, mas dá pra viajar com menos do que isso - especialmente estando em 2 ou 3 pessoas.

Hospedagem:

Pelas leis de Cuba, estrangeiros só estao autorizados a se hospedar em Casas Particulares en divisa ou Hoteis. Ao se hospedar, você deve apresentar o passaporte e assinar um registro.
Todas as casas que fiquei tinham cama com lençóis limpos e toalha, ar condicionado, e na imensa maioria dos casos incluiam sabonete e papel higienico. Mas é bom sempre levar com voce porque aconteceu 2 ou 3 vezes de não ter (são itens bastante caros por lá).

Os preços variam de 15 CUCs nas cidades menos visitadas a 25 CUCs nas cidades mais turísticas. Algumas diárias incluem um café da manhã simples, outras cobram a parte.

Existe uma rede de casas estilo hostel, com quarto compartilhado, e custam geralmente 10 CUCs por noite.

Teoricamente é proibido acampar em Cuba, exceto nos raros pontos de Campismo Nacional

Há também algumas Casas informais, mas os próprios cubanos não costumam incentivar isso. Fiquei em uma dessas apenas uma noite, em Esmeralda, pois na cidade não havia uma casa oficial. As Casas Particulares oficiais para estrangeiros tem uma placa com um símbolo azul, enquanto as de símbolo vermelho são voltadas para cubanos, e cobram em moneda nacional.

Alimentação:

Esse foi o ponto mais complicado da viagem pra mim, especialmente por ser vegano. Com exceção das cidades muito turísticas, há poucos restaurantes, a variedade é ínfima e a qualidade da comida está entre OK e ruim. Meu prato principal foi Congri - arroz e feijão misturados, a moda cubana. Fora isso, tinha que torcer para os restaurantes terem alguma opção de salada e de legumes - 99% das vezes era tomate e pepino, batata doce ou aipim. As vezes tinha repolho. Mais de uma vez entrei num restaurante e a única opção erra arroz e feijão. Mais nada.
Algumas Casas Particulares servem comida, e é de longe a melhor opçao (embora um pouco mais cara). A comida é fresca, feita com muito cuidado, e tem muito mais opções - nas casas comi lentilha, grao de bico, abacate, etc.

Há diversas cafeterias pelas cidades - pequenos quiosques com opçoes de lanches diversas. Aí geralmente voce vai achar café, delicioso refresco de tamarindo, e barrinhas de amendoim e de gergelim que são ótimas pra acompanhar o pedal.

Há algumas marcas de cerveja, todas suficientemente boas, e com preço OK. Minha favorita é a Bucanero. O refrigerante local é o Ciego Montero, mas não gostei muito.

Para quem for ovo-lacto, é muito comum uma pizza brotinho, que vende em tudo quanto é canto, e omelete.

Política:

Acho que nunca foi tão difícil pra mim colocar em palavras o relato de uma viagem de bicicleta como foi essa para Cuba.

Por toda a vida nos deparamos com informações e opiniões das mais diversas sobre esse país, formando uma mística muitas vezes difícil de ser quebrada - mesmo alguns meses depois da viagem.

Nem um modelo de justiça social e igualdade como fazem crer alguns campos da esquerda, nem um antro de miséria e controle ditatorial como propagandeia a direita. O país é complexo, diverso e desigual, como qualquer país latino-americano que viveu por 400 anos sob a exploração europeia e escravagista.

A revolução socialista trouxe diversas conquistas sociais e dignidades invejáveis para padrões latino-americanos: erradicação do analfabetismo, sistema de saúde universal, reforma agrária e do sistema moradia, alto índice de emprego, etc. Por outro lado fatores como desigualdade socio-economica, desigualdade racial, miséria e uma burocracia excessiva estão presentes como em qualquer país latino-americano, porém de forma muito menos extrema do que no Brasil por exemplo.