Caloi Elite 30, 20 e 10

Caloi difícil de pedalar.

Sete anos depois de comprar a fabricante de bicicletas, numa operação contábil complexa, Edson Vaz Musa é acusado de fraude fisca.

Por Joaquim Castanheira.

Ao longo de mais de 30 anos, Edson Vaz Musa construiu uma carreira de sucesso como executivo. No posto de presidente da Rhodia Brasil e de membro do conselho do grupo na França, seu nome tornou-se sinônimo da capacidade gerencial brasileira. Credenciado por essa trajetória, Musa, depois de aposentado, arriscou-se por um novo caminho, desta vez como empresário. Desde então, porém, a vida não lhe tem sido tão risonha como nos tempos de executivo. Dono de 85% do capital votante da Caloi, uma das mais prestigiosas marcas do País, Musa convive com pelo menos dois assuntos incômodos. O primeiro é um inquérito policial aberto há quase três anos, cujo objetivo é apurar eventuais fraudes fiscais que teriam rendido à companhia US$ 20 milhões. O segundo assunto se arrasta desde 1999, quando Musa adquiriu o controle da Caloi. Na operação, criou-se a seguinte situação: a Caloi Norte ficou com a marca, as duas fábricas e os direitos de comercialização dos produtos. À Bicicletas Caloi, por sua vez, coube o endividamento, hoje na casa dos R$ 166 milhões.

Obscuro desde sua origem, o inquérito encontra-se sob segredo de justiça, segundo o delegado Reinaldo Vicente Castello, responsável pelas investigações. DINHEIRO teve acesso à petição inicial, de 15 de agosto de 2003. Nela, um ex-contador da Caloi acusa Musa de determinar a emissão de notas fiscais “gerando créditos tributários inexistentes”. Para isso, teria subornado dois fiscais da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, “mediante o pagamento mensal de US$ 200 mil”. O documento calcula “que no total tenha sido pago US$ 1,8 milhão”. Esse esquema teria, segundo a denúncia, gerado a “apropriação indevida de cerca de US$ 20 milhões de créditos de ICMS”. DINHEIRO conversou com o autor das denúncias sob a condição de que seu nome não fosse veiculado. Nervoso e inseguro, alegou que “foi usado” quando formalizou as denúncias na delegacia. “Eu me arrependi. Se fosse hoje, não teria feito”, afirmou. “Tudo o que denunciei é verdade, mas ocorreu antes do Musa.” Por que, então, envolveu o nome do atual controlador? “Fui levado a fazê-lo e aceitei porque sai da empresa magoado”, diz ele. Ele se despediu da Caloi em 1999 e fez a denúncia quatro anos depois. Além disso, admite que fez “bom acordo de saída” e não tem “pendência trabalhista com a empresa”.

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