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Entrevista - Pierre de Tarde, Gerente de Desenvolvimento da Sense Bike

Uma bicicleta oferecida por uma marca é o acumulado de inúmeras decisões estratégicas, que vão da escolha dos componentes que ofereçam o melhor desempenho pelo custo até os ângulos e medidas do quadro. Por trás destas decisões, os fabricantes contam com a figura do Gerente de Desenvolvimento de Produtos.

Pierre De Tarde, responsável pelo desenvolvimento das bikes da Sense
Pierre De Tarde, responsável pelo desenvolvimento das bikes da Sense    Pedro Cury

Embora os componentes sejam de suma importância, é no quadro que resíde a "alma" da bicicleta, com sua geometria e projeto definindo como a bike se comporta, seu conforto e também ergonomia.

Na Sense Bike, fabricante nacional de bicicletas, a responsabilidade pela escolha de componentes e desenvolvimento da geometria dos quadros é do francês Pierre De Tarde, nascido em Montpellier e com muita experiencia na bicicleta, tendo inclusive competido em alto nível tanto na estrada quanto na terra.

Pedal: Quem é Pierre De Tarde ?
Pierre: Sou francês, nascido em Montpellier, no sul da França, tenho 32 anos e moro no Brasil há 2 anos e meio. Me apaixonei pelo país durante uma viagem em 2012 e, guiado pelo gosto em desafios, decidi mudar de vida.

Pedal: Conte um pouco sobre sua história com com a bicicleta.
Pierre: Não nasci dentro de uma família “ciclista”, mas meu avô materno era do noroeste da França, uma região chamada “Normandie”, perto da Bretagne e berço do ciclismo francês. Durante as ferias escolar do verão, adorava assistir o Tour de France com ele.

Em 1998, a vitoria de Marco Pantani no Tour foi uma revelação para mim. Depois de assistir as etapas eu pagava a velha bicicleta de estrada do meu avô - uma Mercier com quadro de aço Columbus - e me imaginava correndo o Tour, subindo as montanhas igual ao Pirata, eu tinha 14 anos! Dois anos depois comecei a competir nas categorias Cadet e Junior e descobri um certo talento para o ciclismo.


Pedal: Depois deste início nas competições você chegou em qual nível ?
Pierre: Por causa da dopagem, a década de 2000 foram anos “pretos” ou “sujos” do ciclismo na França. Por isso, meu pai não queria que me envolvesse profissionalmente com o esporte. Competi então durante um ano no MTB na modalidade XCO, chegando inclusive a me destacar no Campeonato Frances e na Copa França de XC, contra lendas como Absalon e Tempier.

No entanto meu desejo era mesmo o ciclismo de estrada e voltei com 18 anos a competir na Elite. Em 2002 me destaquei como melhor subidor do Tour de L’Ain (UCI classe 2.1) e fui contratado para correr no time reserva da Cofidis. Corri 3 anos o alto nível, antes de parar para conseguir minha pós-graduação na faculdade, mas sempre continuei a pedalar.


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    Pedro Cury

Pedal: Como surgiu a oportunidade de trabalhar com a Sense ?
Pierre: Em 2015 tive a oportunidade de conversar com a Sense via contatos que eu tive com a SLA (Shimano America Latina) em Araxá. Tudo foi rápido e me apaixonei desde o inicio para o projeto da Sense.

Pedal: Quais seus planos para o futuro como projetista?
Pierre: Tenho o orgulho de gerenciar todos os projetos de bikes da Sense e estamos apenas no inicio. Por isso que estou sempre em busca de inovações para oferecer o melhor padrão de qualidade e prazer em pedalar.

Como Europeu, sou focado em uma linha de bikes dinâmica, completa e evolutiva, para convencer todos os brasileiros e brasileiras a se apaixonarem ainda mais pela bicicleta, usando um produto nacional de alta qualidade!


Pedal: Geometrias cada vez mais slacks e longas estão sendo vistas nas bikes "gringas" mais famosas. Você acha que o Brasil deveria seguir esta tendência ou manter geometrias mais conservadoras ?
Pierre: Em relação as geometrias, sou a favor de reduzir o angulo do Head Tube e deixar mais slack a bike, mas nas proporções adequadas entre 67 e 70 graus no máximo. A Sense foi a primeira marca nacional a abrir mais a frente para beneficiar o comportamento em descidas.

As geometrias “trail” são reconhecidas como o melhor equilíbrio entre rendimento e conforto. O fato de reduzir o entre-eixos permite uma bicicleta muito reativa e ágil, sem perder estabilidade graças a suspensão dianteira mais aberta e com offset maior.

Nesta visão, não concordo em fazer top tube muito longo, o que aumenta muito o Reach e compromete a agilidade. Acredito que uma bicicleta mais divertida, curta e agil deixa o piloto mais confiante, o que diminui a fadíga e pode ser vantajoso em corridas longas.

As geometrias evoluíram muito, para entender melhor a proposta de cada pratica, o brasileiro deve se aproveitar dessas pequenas revoluções para estar no mesmo padrão mundial, deixando de ser tão conservador.


Pedal: Vemos que, muitas vezes, o ciclista brasileiro prefere bicicletas rígidas com perfil de provas de XC. Na sua opinião, porque isso acontece ?

Pierre: Isso foi uma grande surpresa quando cheguei ao Brasil, já que na Europa o consumidor prefere bicicletas full suspension. Acredito que, em parte, isso se deve a falta de bikes full no mercado. Outro fator é o custo das full, hoje ainda muito elevado. Com isso, acaba sendo melhor ter uma bike rígida, leve e mais equipada do que uma full que não vai oferecer o mesmo valor de equipamento e rendimento

O brasileiro é também muito voltado para a competição em todos os níveis e isso incita a preferencia para bikes rigidas, já que a maior parte das provas são de XCO ou XCM. Acredito que isso mudará quando outra filosofia de pedal surgir, com mais provas “all mountain” ou “trail”, junto com a democratização das bikes full.


Quadros de alumínio da Sense, todos projetados por Pierre
Quadros de alumínio da Sense, todos projetados por Pierre    Pedro Cury

Pedal: O brasileiro já entende o valor de uma geometria bem acertada ?
Pierre: Graças a popularização do Bike Fit, os brasileiros passaram a se interessar mais pelas geometrias, mas ainda são poucos os que avaliam a fundo. Além disso, muitas vezes o foco é nos componentes da bike, não na geometria. Isso é um grande erro, porque um cambio XTR não faz uma bicicleta mais rápida que um Deore, mas a geometria sim.

Pedal: O que você acha que falta para as bicicletas de AM e as de trilha decolarem ?
Pierre: Como o preço é altíssimo nas marcas importadas, acredito que falta as marcas nacionais desenvolver bikes AM ou Trail, mas é um grande e minucioso trabalho.

O desenvolvimento de bike full é complexo e necessita muito tempo em estudo de engenharia, além dos ensaios, isso se queremos uma verdadeira bike que funciona e sem cair nos quadros de molde aberto e baixo custo da China.

O preço dos materiais e equipamento ainda é alto, mas temos a responsabilidade de mover o mercado neste sentido, para ofertar mais opções para os usuários para que decolem essas bikes mais divertidas tão comuns na Europa.


Pedal: Como você vê o mercado do ciclismo de estrada no Brasil ?
Pierre: Vejo que o ciclismo de estrada está crescendo cada dia mais no pais. Primeiramente porque as bicicletas de estradas são absolutamente fundamentais para o treinamento até dos atletas de MTB. Também é verdade que muitas pessoas se apaixonam para o ciclismo e sua historia, além de querer um novo estilo de vida mais saudável e desafiador.

Pedal: Que tipo de bicicleta o ciclista brasileiro de estrada procura ?
Pierre: Vejo que as bikes “endurance” são muito procuradas, principalmente porque são ideias para quem quer se iniciar no ciclismo ou percorrer longas distancias sem sofrimento. As estradas brasileiras muitas vezes são complicadas e as bikes endurance são mais confortáveis, graças a geometria diferenciada e pneus mais largos como podemos observar na Prologue ou mesmo Criterium da Sense.

Vejo também um desejo por bikes “aero”, que seduzam os atletas de TT ou os competidores procurando bicicletas mais rígidas e de alta performance. O Brasil tem muito a crescer no mercado de bikes de estrada, já que ele que representa apenas 15% das vendas hoje. Por isso, devemos incentivar seu uso. Até por que a Sense é uma marca apaixonada e comprometida com o esporte.


Mais informações e linha completa em www.sensebike.com.br.


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