Nascido em Cape Town, Africa do Sul, no ano de 1978, Mark Hopkins é um desses caras que, assim como nós, respira mountain biking - principalmente a parte mais "nerdistica" da coisa. Por isso, quando conhecemos o cara em 2018, a conversa rapidamente migrou de "ola, meu nome é Fulano" para "Reduzimos o anti-squat na suspensão traseira para evitar o pedal kickback no fim do curso".
Na ocasião, a nacional Sense Bike havia anunciado a compra da Swift Carbon, empresa Sul-Africana especializada em bicicletas de fibra de carbono. Mark, que trabalhava no desenvolvimento da Swift, veio participar do evento que anunciou a novidade e falar um pouco mais sobre a all-mountain Exalt - até então um protótipo ainda sem nome que não havia saído do computador.
Em uma recente viagem para a África do Sul, finalmente tivemos a oportunidade de fazer um teste de primeiras impressões com a Exalt e de conversar um pouco mais com um dos maiores responsáveis pelo projeto.
O começo na bike
A história de Mark com a bike começou quando seu pai, campeão Sul Africano de Motocross em 1977, sofreu um acidente e machucou seriamente as costas. Pouco depois, já na década de 1980, o pai de Mark começou a vender bicicletas de MTB, colocando o jovem em contato direto com a modalidade. "No começo, as bicicletas de mountain bike eram muito menos avançadas, então as quebras de componentes eram quase diárias. Ganhamos muita experiência logo de cara", explicou Mark.
Depois disso, e vivendo em um dos lugares mais bonitos e cheio de trilhas do mundo, a relação do jovem com a bike só cresceu, principalmente na direção da parte mais radical do esporte. No fim dos anos 1990, Mark passou a competir de downhill de forma mais séria - ele venceu o campeonato Sul-Africano em 2000.
"Comecei no downhill em 98/99 e as coisas avançaram rapidamente. Tínhamos uma boa equipe em Stellenbosch pedalando ou correndo todos os finais de semana. Na época, nós ficávamos na casa do Andrew Neethling (conhecido piloto sul-africano) e fomos vendo ele ficar mais rápido ano após ano, até que finalmente em 2001 ele estava ganhando de nós, pouco antes dele começar a correr internacionalmente", contou.
Entrando no mercado
Em 2000, quando Mark correu o Campeonato Mundial de Downnhill na Espanha, uma queda de corrente acabou mudando mais uma vez a história do piloto. "Na competição eu perdi minha corrente e, por conta disso, abri minha primeira empresa no mountain biking para desenvolver e fabricar guias de corrente. Depois disso, junto como o doutor Chris Leatt, participei da fundação da Leatt", contou Mark.
Para quem não conhece, a Leatt oferece sistema de proteção para o pescoço para várias categorias, além de capacetes, luvas, roupas esportivas e muitos outros acessórios.
Existe algo em especial em desenhar seus próprios componentes e produzi-los em seu torno CNC e moldes de carbono
"Passei um tempo na Europa em 2002 de olho na cena e corri a Copa do Mundo em Fort William e na Slovênia, além de algumas provas locais na Grã-Bretanha. Aí percebi que deveria focar em desenvolver minha empresa e não correr de bike. No fim de 2004 abandonei as competições de downhill e passei a focar totalmente na Leatt, projetando e desenvolvendo Neckbraces", explicou.
O projetista e ex-piloto seguiu com a Leatt até 2012, ano em que ele deixou a parceria para fundar a cSixx Components, além de uma consultoría de desenvolvimento de bicicletas e a marca de bikes PYGA. "Existe algo em especial em desenhar seus próprios componentes e produzi-los em seu torno CNC, Impressoras 3D e moldes de fibra de carbono, além de testar tudo em nossas trilhas locais", disse Mark.
Contato com a Sense
Como explicamos acima, o contato de Mark com a Sense aconteceu pela Swift Carbon. Segundo ele, a aproximação com Mark Blewett, fundador da marca Sul-Africana, aconteceu por um amigo em comum. Na época, a empresa buscava alguém para ajudar no desenvolvimento de sua nova bike e as coisas rapidamente se encaixaram.
"Eu havia trabalhado nos projetos da PYGA dois anos antes, então o timing foi perfeito. Sempre admirei o DNA e o estilo de projeto da Swift, então fiquei muito animado em participar do desenvolvimento da marca", explicou. Depois disso, com a realização da compra da Swift pela Sense, Mark passou a ter contato direto com a o time da marca brasileira de bicicletas.
"É muito legal trabalhar com os caras da Sense. Não é sempre que encontramos uma companhia com tanta paixão e motivação para realizar um sonho. Será estimulante ver o progresso, já que normalmente tanta paixão resulta em coisas especiais acontecendo", disse.
O fim das grandes mudanças
O mountain biking é um esporte bastante novo, com as primeiras bicicletas da modalidade tendo sido criadas nos anos de 1970. Naquela época, nomes como Gary Fischer, Tom Ritchey, Charlie Kelly e Joe Breze adaptavam antigas bicicletas cruiser para descer estradas de terra em alta velocidade - as famosas "clunkers".
De lá para cá, as bikes sofreram enormes mudanças de formato e ganharam diversas variações, com desenhos específicos para cada tipo de uso sendo criados e aprimorados ano após ano. Segundo Mark, esta fase de mudanças extremas ficou para trás, com o aprimoramento e a maior adaptação para cada tipo de ciclista sendo os próximos passos.
"Acho que as grandes inovações estão se esgotando e agora teremos uma consolidação que nos levará à uma bike realmente especial. As geometrias estão atingindo bons números e hoje em dia você encontra praticamente todos os tipos de bicicleta. O próximo passo é a ajustabilidade desenhada na própria bike", afirmou Mark.
"Existe um tipo de geometria que vai funcionar melhor para cada tipo de ciclista e por isso veremos no futuro mais geometrias criadas especificamente para estilos de pilotagem. Um exemplo simples seria uma bike longa e mais relaxada para pilotos agressivos e mais curta e reta para pilotos menos agressivos", explicou.
Outras tendências para o futuro
Mark acredita que, no futuro, a própria bicicleta deve integrar ferramentas que facilitem a regulagem da suspensão. Algo como o ShockWiz, mas embutido na própria bike. "As bikes hoje em dia são muito boas, mas se você não souber ajustar corretamente a suspensão, uma bike muito boa fica uma porcaria", concluiu.
Mark também é mais um envolvido no mundo da bicicleta que acredita que a próxima grande revolução - que já está em pleno andamento - são as bicicletas elétricas. No futuro, ele acredita que caixas de marcha ajudarão a transmitir a potência adicional com mais segurança e que as bikes serão mais leves e com maior autonomia.
Assim como acontecerá com as suspensões, Mark acredita que a integração também será muito forte como as E-Bikes. "Pense em ajustar sua suspensão, marchas, canote retrátil, bateria e motor no celular, com sugestões de como melhorar sua pedalada. Você poderia controlar retorno, compressão, altura do canote e muito mais", finalizou.
Mais informações no site oficial da Sense Bike.
Relacionados