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Entrevista com André Sanches

O PEDAL teve o prazer de conversar com mais um atleta brasileiro que faz bonito em terras estrangeiras. Infelizmente em nosso país as oportunidades são menores, e brasileiros saem de nossas fronteiras em busca de maiores chances.

Com o carioca André Sanches não foi exatamente assim, mas quando era jovem foi para o Alaska. Estava em busca de esportes de montanha: escalada, snowboard e esqui; além de estudar e aprimorar o inglês. Ao voltar para o Brasil, atingiu a maioridade e decidiu outro destino. Mas ao longo da sua vida, nunca deixou de lado as bicicletas, a sua verdadeira paixão.

Vivendo legalmente nos Estados Unidos há cinco anos, André Sanches trabalha hoje numa das empresas mais conceituadas do mundo esportivo, onde a conquista da vaga não foi fácil. Nessa entrevista descontraída – concedida na sala em que trabalha – conheceremos mais um pouco deste jovem piloto de 23 anos.

PEDAL: Que loucura foi essa de viajar para o Alaska?
ANDRÉ: Quando eu fiz 16 anos decidi fazer esse intercâmbio. Parece brincadeira, mas não é. Morei um ano em Palmer, no Matanuska Valley. Foi uma mudança radical, mas o Alaska não é como a maioria imagina. Não morei em iglu, nem vivi próximo dos ursos polares, mas aprendi muito. Vivi com uma família muito ativa, embora tivessem muito conforto, eles eram quase auto-suficientes. No verão pesquei tanto salmão e hallibut com eles, que tivemos comida o suficiente para o ano inteiro. Assim que começou a nevar parti para o snowboard, continuando minha vida nas montanhas.

PEDAL: E a viagem para os Estados Unidos?
ANDRÉ: Quando voltei para o Brasil, estava um pouco inquieto. Comecei a pesquisar algumas faculdades fora. Minha mãe, Lúcia Sanches, me apoiou 100% desde o primeiro dia. Com boas notas e um bom histórico (acadêmico e esportivo), fui aceito em todas as universidades que apliquei. Dois dias depois de fazer 18 anos me mudei para San Diego, onde comecei a Faculdade de Comércio Exterior.

PEDAL: Chegando aqui você ficou quieto ou mudou de rumo novamente?
ANDRÉ: Realmente eu não paro quieto. Em 2004 fui à Europa estudar e também competir. Participei da World Cup Finals em Livigno, Itália, algumas etapas da Maxxis Cups e corridas pela Espanha. Em 2005 voltei para os EUA, e me formei na San Diego State University em Comércio Exterior e Marketing. Logo em seguida “vendi minha alma” para a Oakley, aonde faço as Operações Internacionais, que aqui estou!

PEDAL: Voltando mais ainda ao passado, como você começou a pedalar?
ANDRÉ: Quando eu era moleque ainda, minha mãe me deu uma BMX da Monark...preta e amarela, com um selim de plástico que até hoje dói só de lembrar. Eu pedalava com amigos ou com meu avô quando ele fazia as caminhadas. Nesta infância eu construí na minha casa umas rampas de madeira bem toscas, e saltava que nem um tonto direto para o plano ao melhor estilo Canadense – todo duro. Minha infância foi de menino moleque: ralava-me todo, caía na piscina com a bike de propósito e por aí vai. Lá pelos 14 anos eu fazia muitas pedaladas de XC com meus amigos, mas sempre em busca do DH. Saíamos de Petrópolis até Miguel Pereira ou para a estrada de Teresópolis. Fazíamos o Tapera ou Vale da Lua, e voltávamos no mesmo dia. Quem conhece o Rio sabe que isso é uma boa distância. Todos com quem eu andava ainda se lembram dos meus tombos. Eu caía do nada, no meio da rua, na frente da escola, em frente à padaria, um escândalo atrás do outro. Eu era (ainda sou um pouco) desajeitado na bicicleta.

PEDAL: Quem eram esses amigos do Brasil?
ANDRÉ: Eram Lucca e Théo Mello (Pedal Livre), Raul Magalhães, Alexandre Gelli, Rodolpho Mattheis e Felipe Scofano. Tinham outros que também faziam parte desta amizade, mas nem lembro agora.

PEDAL: De onde surgiu o interesse pelas competições?
ANDRÉ: No Brasil, eu e esses amigos éramos vidrados em tudo que era relacionado ao MTB. Nós éramos fãs dos vídeos, das revistas e de tudo que vinha de fora, já que o MTB estava engatinhando no Brasil. Nós achávamos tudo aquilo “irado”. Então sempre sonhei com o mountain bike americano e em andar em lugares como Durango, no Colorado e Big Bear, aqui na Califórnia. Quando vim aos EUA fazer a faculdade entrei na equipe de MTB da universidade, mas para ter uma atividade extra e uma desculpa para viajar. Minha primeira corrida foi de Cross Country pelo circuito universitário, no campus da UCSD (University of California San Diego). Consegui um 2º lugar. Corri XC e Triathlon por 2 anos, mas no fundo eu sabia que o que eu queria mesmo era o DH.

PEDAL: Quer dizer que sua vinda para os EUA foi por causa das Bikes?
ANDRÉ: Sempre fui apaixonado pelo MTB, mas não planejei minha vinda para os EUA por causa do MTB. Foi uma coincidência que deu muito certo. Assim que me dei conta que o Sul da California é um dos epicentros do MTB por existirem várias corridas, pilotos e empresas do ramo, eu pulei de cabeça no mundo do MTB. Por fim, dediquei-me mais ainda aos estudos, focando na indústria do ciclismo, pois sabia que ali construiria meu futuro, tanto como atleta e como profissional na minha área de estudo.

PEDAL: Suas primeiras competições foram na Universidade, com resultados expressivos. Até esse momento não tinha como avaliar uma verdadeira performance ou você já estava preparado: "vou competir no circuito americano". Como foi essa experiência de sair dos iniciantes e partir para os profissionais? Você perdeu muitas provas? Essas derrotas deixou-lhe desmotivado?
ANDRÉ: A primeira vez que corri um NORBA catei 2º lugar como Sport em Big Bear e o pessoal da SponsorHouse me “adotou” para viajar no motorhome deles. E no ano seguinte em Expert ganhei o campeonato Californiano. Fiz amizades, ganhei corridas, perdi várias, consegui apoio aqui e ali, e assim fui criando meu espaço e viabilizando a participação no NORBA series que não é barata. Quanto às derrotas, ainda não dou coro nos caras como Rennie ou Cedric, mas isso me motiva. Meu objetivo sempre foi correr junto com os tops e ao mesmo tempo ter uma carreira em "action sports". E olhando para onde estou hoje, motivo-me cada vez mais.

PEDAL: Até chegar onde você esta, muitos pedais rolaram. Seus treinos foram aleatórios ou você teve um treino ou treinador específico?
ANDRÉ: Durante meus anos na San Diego State University tive treinadores, nutricionistas, acesso às melhores academias e aprendi muito. Acabei ficando um pouco regrado demais, e chegava a ser paranóico. Tinha calendário com treino de dirt jump, dia para estrada, academia, BMX, etc. Mas desde que comecei a focar na diversão, minha performance melhorou muito mais. Hoje por exemplo, é uma quarta-feira, dia de BMX. Mas se eu mudar de idéia e quiser ir saltar, eu vou nos dirt jumps e para compensar, ainda faço um XC durante o almoço.

PEDAL: Para você, qual foi o seu melhor momento?
ANDRÉ: Já rolou tanta coisa, tanta viagem e corrida, que é difícil escolher um momento. A temporada de 2005 eu considero como a melhor até agora, já que foi quando comecei a ser mais reconhecido no circuito. Neste ano corri no Brasil, Canadá, Europa, EUA e México, também foi quando me estabeleci melhor no “circo” do mountain bike americano, entrando para a equipe da Avent Cycles / Bombshell e também para a Oakley.

PEDAL: Até chegar nessa pedalada de sucesso, você teve o pior momento?
ANDRÉ: Nessa pedalada todos nós temos momentos ruins. Eu graças a Deus sempre fui limitando as coisas e soube lidar com esses problemas corriqueiros. Mas eu tenho uma mágoa. Em 2004 fui correr na Europa. Cheguei logo depois do NORBA de Durango para assistir o mundial em Les Gets na Franca, e depois correr as World Cups restantes. Não fui para Les Gets, pois estava na Espanha e super cansado. Quando cheguei em Livigno, Italia, o Robert Sgarbi me disse que eu poderia ter corrido em Les Gets! Nada catastrófico, mas fiquei frustrado por perder essa oportunidade.

PEDAL: Conseguir apoio no exterior é mais fácil? Com que visão você analisa isso?
ANDRÉ: Estar no Sul da Califórnia ajuda, pois boa parte da indústria do MTB está aqui, mas ao mesmo tempo o nível dos pilotos é altíssimo e por isso para se destacar você tem que estar andando forte. Além disso, você tem que saber “se vender”. Bons resultados ajudam, mas apenas até certo ponto. Para se destacar e conseguir os patrocínios que você realmente quer, você tem que ter personalidade, estar presente nos eventos certos, na hora certa e tem que oferecer algo que os outros pilotos não oferecem, ou seja, você tem que ser único.

PEDAL: Você que está vivendo no exterior há um bom tempo, que tipo de avaliação você faria do downhill brasileiro em relação ao passado, presente e futuro? Desde progressões de pilotos às competições.
ANDRÉ: No passado, o lado competitivo do MTB no Brasil estava um tanto distante da maioria dos praticantes de MTB. Quando morava no Brasil, eu andava com o Théo e Lebo: da Loja Pedal Livre (que me ensinaram muito); e tinha vontade de correr, mas era algo distante. Tinham poucos eventos no Brasil, e o custo de uma bike descente era altíssimo. Embora tivesse condições de comprar uma boa bike de MTB, eu não tinha coragem de gastar tanto dinheiro em algo que no fim das contas é uma bicicleta (muito sofisticada, mas apenas uma bicicleta).

No presente, o número de eventos no Brasil multiplicou. Já realizamos 2 World Cups, pilotos de outros países da América do Sul prestigiam nossos eventos, e alguns segmentos de filmes de MTB foram feitos aí. Tudo isso mostra que somos expressivos no circuito mundial de MTB e estimula os bikers brasileiros entrarem para o lado competitivo do esporte investindo em equipamento, viagens e treinos. Além disso, os preços das bikes decentes caíram muito, ao mesmo tempo que as opções se expandiram.

Para o futuro no Brasil eu vejo não apenas o MTB, mas todos os esportes de ação se popularizando mais ainda. O público brasileiro é constantemente bombardeado com futebol e apenas futebol, por isso novos esportes são aceitados rapidamente, e a molecada nova adota esses novos esportes facilmente. Com tudo isso em mente, imagino que o freeride se popularize mais ainda. O DH, Dual Slalom e 4X atraem muitos espectadores, mas poucos atletas se tornam competitivos. O Freeride oferece uma oportunidade para o público em geral participar do MTB “extremo”, mas de uma forma recreativa. E para esse futuro espero já estar de volta ao Brasil para fazer parte do MTB Brasileiro.

PEDAL: Quais são seus patrocínios atualmente?
ANDRÉ: Os oficiais são http://www.aventcycles.com/, http://bombshellparts.com/, Grupo SRAM http://www.sram.com/, http://www.nofearmx.com/, http://www.camelbak.com/, http://www.monsterenergy.com/ e http://www.oakley.com/.


::Agradecimentos especiais::

Sanjay Shanbhag, Wes Pracht, Alfonso Garcia e George; amigos de André que viajaram de carro com Guiné de Las Vegas até San Diego. Ao amigo e fotógrafo oficial de André, Wes Pracht.

Quem quiser saber mais sobre André Sanches, acessem o link abaixo. Um site que aglomera os principais pilotos do mundo: http://www.SponsorHouse.com/members/andre/

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