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Burry Stander - Um salve com muitas palavras

Não tem como descrever a perda de uma pessoa que a gente goste ou admira. Um ídolo, por exemplo, é a mesma coisa, independente de termos um contato pessoal ou não. Burry Stander se foi e vi que muitos amigos, conhecidos e anônimos sentiram a dor deste ciclista do mountain bike. Eu também!

O primeiro e único contato que tive com Burry Stander foi no Inter Bike de 2009. Se arrependimento matasse, eu já estaria pedalando com ele agora. Justamente porque não tirei uma foto com este grande atleta.

Eu estava perambulando em um dos corredores da feira, quando deparei com Hans Rey. Fui pedir um autógrafo para um dos meus mais antigos ídolos do MTB (tenho vários). Hans Rey falou algo do tipo: “Peça autógrafo para ele também, o campeão mundial!” Eu virei o rosto, olhei para o bordado da camisa (GT Bicycles) e relembrei, pois só conhecia-o por fotos e vídeos. Acanhado, ele virou e falou comigo: " Hi ! "

Com o meu “Guinelês”, troquei umas palavras com Burry e me identifiquei. Falei que era do site Pedal (Brasil), que publicávamos releases da Copa do Mundo e Mundiais e, que nos últimos anos, já vinha acompanhando a sua trajetória, por ter surgido do anonimato para as cabeças do ranking da UCI, além de ter ganhado algumas etapas da WC e por ser eleito o atleta destaque. Ainda parabenizei por ele ter conquistado o título para um país que não tinha tanta tradição no MTB naquele época. Acho que ele entendeu pelo menos um pouco desta bajulação. Ele merecia!

O ano de 2009 foi de Burry Stander, com seu título de campeão mundial na Sub-23. Pois em 2008 ele foi vice-campeão mundial na mesma categoria. E em 2007 e 2006 ele estava surgindo como um coadjuvante no cenário do mountain bike, junto com tantos nomes especiais que temos hoje: Lukas Fluckiger, Jaroslav Kulhavy e Marco Aurélio Fontana. Sobre Nino Schurter, ele já vinha emplacando seus títulos nestes anos citados.

A gente que ama o ciclismo, temos muitos ídolos como estes acima. Sim, somos loucos e fanáticos pela bicicleta. Eu não sou aquele louco e fanático de gritar, colecionar pôsters ou figurinhas. Bom, acho que sou um pouco, porque tenho muita coisa antiga que guardo a sete chaves, como muitos outros bikers. Mas enfim, passei a gostar mais ainda deste sulafricano por ter vindo de um país não muito tradicional; que estava "fora do circuito".

Hoje, a África do Sul é um exemplo de país e muito bem vista no ciclismo, independente de ter acontecido esta fatalidade. Com certeza, Burry Stander foi um dos ciclistas que contribuíram para isto. Ele sempre carregou a bandeira do país em sua camisa de forma diferente de todos os atletas da Copa do Mundo.

A sua última glória foi no mundial de Single Speed MTB, em seu próprio país. Para quem não sabe, este campeonato é uma grande festa, na qual Burry deixou a sua marca em belo estilo com a história que vou contar rapidamente (através de relatos oficiais e pessoas íntimas).

Stander queria participar da festa. A Specialized mandou uma bicicleta, mas o transporte ficou incerto e ele quis adiantar o processo da montagem (desmontagem) da sua S-Works. Após a correria e finalização, a configuração da bike ficou com 34x20.

Pedalar sempre foi seu prazer e ele não queria ficar de fora desta. Saiu às pressas de sua cidade, acompanhado da sua esposa, Cherise Stander, que vem migrando do ciclismo para o mountain bike, com certeza era para acompanhar o marido.

O casal chegou à meia noite em Winterton e dormiu no próprio carro. Sim, por que não? Que é ciclista e compete, sabe muito bem o que é isto (também já fiz). Uma prazerosa e verdadeira aventura. Isso é amor e paixão ao que gosta de fazer: mountain bike.

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A corrida foi na manhã seguinte e lá estava o casal Stander, com roupas retrô. Antecipando o relato da corrida... Burry estava liderando a prova, quando teve o canote de sua bike quebrado a menos de 5km (total de 40km). Nos 500m finais, ele foi alcançado e ultrapassado, mas prevaleceu sua raça e mérito, com uma chegada espetacular. Em uma das muitas de suas entrevistas depois corrida, ele falou: "Eu vim para participar e a brincadeira ficou divertida. O espírito esportivo foi além do que eu imaginava. Queria deixar o título aqui no nosso país, como já vinha acontecendo nas últimas edições."


Todo campeão mundial de single speed de mountain bike, recebe o troféu inusitado: a tattoo com a logo da edição. Foi a primeira tatuagem de Burry Stander, que quis por no braço. Mas para ele, o melhor troféu desta competição foi a quinta colocação da sua esposa, por estar ao seu lado nesta aventura que ficará na memória de todos nós.

Como é bom relembrar destes fatos! As pessoas se vão e as lembranças ficam. Um salve mais do que especial e merecido de toda galera do Brasil, por tudo que Burry Stander fez e deixou no mountain biking.



Dois vídeos emocionantes:

O vídeo abaixo foi feito através de um patrocinador, que relata uma série de atletas olímpicos: "O que é preciso para levantar um atleta olímpico?"

Neste, por exemplo, encontramos Mandie Stander, a mãe de Burry Stander, mostrando cada passo do caminho deste brilhante atleta. Mãe é mãe! Vale relembrar esta emoção!



Tributo para Burry Stander



Crédito da Foto (tatuagem)- Rush Sports

Crédito da Foto (casal Stander) - Dino Lloyd

Autor

Guiné

Colunista

Guiné é colunista do Pedal.com.br e compete desde os 4 anos de idade.


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