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Entrevista - Avancini é escolhido ‘Atleta da Torcida’ no Prêmio Brasil Olímpico

Dez atletas de diferentes modalidades concorreram. Henrique Avancini ganhou com mais de 70% dos votos

O público escolheu e Henrique Avancini (Cannondale Factory Racing) é o “Atleta da Torcida” do Prêmio Brasil Olímpico 2018. O campeão Mundial 2018 de Mountain Bike Maratona concorreu com atletas como Duda e Ágatha, do vôlei de praia, Arthur Zanetti da ginástica artística, Bruno Fratus, da natação, Bruninho do vôlei, Érika Miranda que é atleta de judô, o surfista Gabriel Medina, a skatista Letícia Bufoni, a atleta Marta do futebol e Eduarda Amorim, do handebol. Henrique foi campeão com mais de 70% dos votos, uma diferença significativa em relação à segunda colocada, Eduarda Amorim.

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Desde o início da votação, no dia 25 de novembro, Henrique Avancini e outros atletas tem feito uma campanha nas redes sociais para a votação. Durante a votação, o sistema chegou a sair do ar por algumas horas e Avancini ressaltou em suas redes sociais que “nem os computadores entendem os apaixonados pela bike”. O Campeão Mundial de Maratona ainda chegou a reforçar que o prêmio não era por um atleta mas pelo mundo do mountain bike.

Em conversa ao Pedal, Avancini reforçou que este foi um ano marcante para o MTB e que é apenas o começo. O atleta falou de como elabora e quais são os projetos para 2019. Ele também comentou sobre como é a vida viajando ao redor do mundo pelo mountain bike e ainda trabalhando com projetos no Brasil. Confira a entrevista completa.

- Este ano você fez história para você como atleta, para o mountain bike brasileiro, inspirou diversos bikers e fortaleceu o meio. Como é chegar ao fim de 2018 e ainda ser escolhido, pela primeira vez para você e para o mtb brasileiro, o “Atleta da Torcida” do Prêmio Brasil Olímpico?

Foi um ano marcante para o nosso esporte, para a nossa modalidade, especialmente para o mountain bike. O crescimento como um todo, das indústrias, das competições é um grande primeiro passo para um futuro que eu vejo muito promissor. Existem diversas coisas acontecendo nos bastidores do esporte do mountain bike que eu diria que ainda vamos colher os frutos nos próximos anos. Viver este momento como atleta e de certa maneira como embaixador da modalidade, é muito especial para mim. Eu tinha um grande sonho na minha vida de revolucionar o meu esporte e isso eu falei há alguns anos, hoje ver está acontecendo. Estamos vendo o nosso esporte crescer dentro do nosso nicho e também do público aberto é realmente uma imensa realização. É um grande momento, mas é só o começo. Muitas coisas boas irão acontecer para o nosso mountain bike.

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    Michele Mondini

- Além de ser o atual campeão Mundial de Maratona, você alcançou resultados históricos. Como é feito seu processo de traçar metas no início de cada ano? E para 2019, qual a sua principal meta?

Eu faço o meu planejamento logo após o término da temporada e depois eu reavalio todas as nossas metas, junto com a planificação do ano. Geralmente, o plano em si é um norte já que pela exposição da modalidade e pela variabilidade das competições e de tudo que pode acontecer, a gente tenta se manter o mais adaptável possível, o que é necessário para a modalidade. Ou seja, geralmente quando eu chego no ponto da virada do ano eu já sei quais são meus principais objetivos e quais serão as provas que eu busco uma melhor forma. Mas, acima disso, hoje tenho metas claras não apenas ao melhor resultado mas na minha postura de treinamentos e de competição em cada momento do ano. Às vezes isso me leva a resultados melhores, às vezes não. Tem provas que eu largo com um objetivo de entregar uma performance na qual eu me preparei de alguma maneira para aquele momento.

Hoje eu procuro não ter uma variação tão grande de resultados, até porque eu ainda busco consistência, o que era a meta de 2018 e eu consegui. E, quanto mais situações você tem de disputa na frente do pelotão, maior a sua experiência e aprendizado e isso é o que você consegue levar como um diferencial para o futuro. Então, 2019 e 2020 é o começo dessa fase de entregar a experiência que eu venho agregando nos últimos anos.

- Este ano você competiu diversas provas intensas, com intervalos de tempo pequenos e muitas viagens. Como é seu trabalho de recuperação física e como manter a mente no lugar para que o cansaço não te boicote?

Hoje eu sou de longe o atleta do Circuito Internacional que mais viaja. Isso, obviamente é pesado. Só como curiosidade, eu cruzei o atlântico esse ano 18 vezes. Em uma conta básica, dos 365 dias do ano, 90 dias o meu corpo estava sobre o efeito de Jet Lag, uma descompensação devido ao fuso horário. Neste contexto, a minha perda é grande. Mas, creio que isso só é possível devido a tudo que me levou a esse ponto, a minha resiliência, como eu consigo me adaptar. Não é cenário ideal, mas sei que eu tenho que lidar com o compromisso que a maioria dos atletas não lidam porque não precisam ou não querem. Eu escolhi guiar minha carreira por uma razão maior do que apenas os meus resultados. Então, hoje minha vida é uma corrida contra o relógio. Eu tenho vários projetos, eu sou muito envolvido nos bastidores do esporte e viajo muito ao redor do mundo o ano inteiro. Isso realmente pesa, mas o principal é ter uma razão maior do que os meus resultados pessoais.

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- Em uma entrevista você comentou: “sei que não sou um talento, mas posso trabalhar mais que todos”. Durante toda a sua vida de biker, em que momento você percebeu que poderia fazer diferença pela sua dedicação?

Tem gente que às vezes discorda dessa minha afirmação e dizem que é exagero, mas não é.

A questão desta minha afirmação tão categoricamente é que minha jornada inteira como atleta me ensinou isso e hoje, mesmo sendo Campeão Mundial, tenho certeza que não sou um grande talento da modalidade. Eu procuro dividir como uma mensagem para as pessoas, porque eu tive sonho e durante muito tempo eu estava muito distante dele, desse objetivo. Mas, nem por isso eu deixei de buscar um caminho para buscar meu objetivo. Eu percebi que abraçar a jornada e se envolver no processo é o que te dá a chance de todos os dias você se aproximar do seu objetivo. No final das contas, todos os dias a gente tem uma escolha: ou se aproximar ou se afastar do que a gente deseja alcançar. Eu continuei acreditando e trabalhando muito. Então, foi assim que eu segui e assim que eu sigo até hoje.

- Ter um Campeão Mundial como gestor de um projeto é uma inspiração para a equipe Caloi Avancini Team. Além deles, qual outro projeto você desenvolve no Brasil e como conciliar tudo isso com as viagens?

A Caloi Avancini Team é um projeto que realmente demanda bastante pela maneira que a gente gere, não é apenas uma equipe profissional de mountain bikem, mas nos envolvemos na produção e preparação dos atletas a longo prazo. É bem diferente o jeito que a gente trabalha, que a gente se envolve com os atletas. É um contato muito mais próximo e mais contínuo. Isso demanda muito do meu tempo, da minha atenção com os atletas e principalmente com o staff que trabalha com os atletas. Assim, eu procuro muito preparar as pessoas que trabalham com os atletas para ajudá-los nas situações que eu sei que eles vão eu sei que eles vão enfrentar em um momento ou outro.

Além disso, eu tenho um projeto social que também demanda tempo, que é um projeto que fazemos um estudo com uma universidade para ver os reais impactos da bicicleta em diferentes ambientes, em diferentes modalidades de uso. Sempre acreditei muito na bicicleta como um instrumento transformador e é por isso que esse projeto tem um valor sentimental enorme. Também, sou envolvido em várias pequenas ações para fomentar a bicicleta, na minha cidade, a nível nacional e internacional. Essas pequenas ações são coisas que eu tento fomentar, criar e entregar projetos para o poder público, para usarmos a bicicleta como um potencializador social, turístico e econômico. Eu realmente acredito que a bicicleta é instrumento que gera muitas possibilidades e eu tento abrir os olhos das pessoas para isso.

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Também temos a produção do meu programa no Canal Off, o ‘Vida de Biker’, também exige muita atenção. Trabalhar com televisão é complicado, porque não é só a produção em si do conteúdo onde eu sou extremamente envolvido, mas as barreiras que você tem por direitos de imagem é completamente diferente de você produzir conteúdo pra internet. Então é muito mais burocrático, trabalhoso pra você produzir um conteúdo principalmente como a gente fez nessa temporada com bastidores de competição que foi, também, um exercício político muito intenso pra mim de conseguir liberações, de conseguir fazer tudo isso acontecer.

Mas enfim, são todas ações positivas e além disso eu tenho outras ocupações fora da bicicleta. Coisas mais pessoais, projetos pessoais que não relacionados ao esporte diretamente e acho todas as minhas ocupações hoje são boas, apesar de ter uma vida que me priva muito de ter algum tempo livre, de poder às vezes estar com minha família e meus amigos. Eu fico feliz por aproveitar meu bom momento profissional, para fazer coisas boas e ainda assim manter uma boa performance. Não é fácil achar esse equilíbrio, mas é extremamente prazeroso.


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