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A revolução do Shweeb - Pedalar pelos céus da cidade

Entre numa cápsula de transporte individual, encoste-se confortavelmente e escolha o seu destino. Para se mover só tem que pedalar suavemente e esquecer o resto. Se o que está a dar na televisão o aborrece, pode optar por desfrutar da vista panorâmica de 360 graus que tem sobre a metrópole, pois está suspenso sobre um monocarril que percorre as entranhas da cidade. Bem-vindo ao meio de transporte do futuro. Uma alternativa.

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Em 2008, para comemorar o seu primeiro decénio de existência, a Google lançou o repto: dez milhões de dólares a dividir por quem conseguisse criar ideias e projetos que ajudem a tornar o mundo num lugar melhor e que, ao mesmo tempo, cheguem a um grande número de pessoas.

O desafio não passou em claro e, passados dois anos, perto de 150 mil ideias, provenientes de 170 países, foram enviadas para a sede da empresa, na Califórnia. Todavia, apenas cinco foram contempladas com um “gordo” cheque da multinacional norte-americana. Para a categoria de Inovação nos Transportes Públicos, o sortudo vencedor foi o Shweeb, uma ideia que nada deve à originalidade, muito pelo contrário.

O nome deriva do alemão “schweben”, que traduzido para português significa “flutuar”, um verbo que diz quase tudo sobre este projeto. A ideia básica é fácil de entender, embora seja estranha de se visualizar. Imagine um sistema de transporte baseado em veículos que se movem através da força humana, ou para sermos mais específicos, pelo simples ato de pedalar, tal e qual numa bicicleta. Até aqui parece perfeitamente banal, a diferença é que, em vez de se pedalar por uma estrada, pedala-se de modo suspenso ao longo de um monocarril, dentro de uma cápsula transparente que nos deixa ver lá em baixo as ruas da cidade. Vertiginoso?

Pois bem, eis o Shweeb, uma criação que brotou da mente de Geoffrey Barnett, um australiano que pretende por as pessoas a pedalar pelos céus, literalmente.



Financiado com um milhão de dólares (fruto do prêmio da Google), o projeto já tem o seu protótipo e perfila-se como uma das soluções para os problemas dos transportes urbanos, pelo menos para as curtas e médias distâncias. O objectivo é ser “sustentável” e “amigo do ambiente”, dois conceitos que, apesar de se terem tornado em clichés do marketing moderno, não deixam de ser, nos dias de hoje, uma verdadeira exigência.

Sem necessidade de combustíveis fósseis, barato, bem longe dos acidentes rodoviários e ainda permite fazer exercício físico. Eis como o Shweeb pretende convencer os que querem fugir ao sedentarismo e às fumarentas e infindáveis filas de trânsito.

O Homem sonha…

Geoffrey Barnett cresceu nos subúrbios de Melbourne, na Austrália, e desde cedo ganhou duas paixões: viajar de bicicleta e construir “engenhocas” no barracão da sua casa. Depois de se licenciar em Artes foi viver para o Japão, trabalhando como professor de inglês. Foi na irrequieta Tóquio, emergido entre os seus 35 milhões de habitantes e enquanto assistia à lentidão do trânsito rodoviário, que uma ideia começou a confluir à sua cabeça: e se fosse possível “pedalar” sobre todo aquele caos de asfalto e motores através de um sistema interligado de monocarris?

Diz o poeta que “o Homem sonha, a obra nasce”, pelo que Barnett não se fez rogado e seguiu-o à letra. Quando regressou à Austrália, começou a trabalhar num modelo que colocasse em prática a sua ideia. Ao fim de seis anos, divididos entre o desenho e teste de vários protótipos, o primeiro exemplar do Shweeb ficou pronto.

Em teoria – e já a visionar a aplicação deste projecto numa cidade – enquanto o viajante pedala no Shweeb, até ao seu destino, ele poderá ler, falar ou escrever ao telemóvel, ouvir música e até ver televisão dentro da cápsula. Basta programar o seu local de destino no software do veículo e este tratará de tudo. A única coisa que terá de fazer é pedalar um pouco, nada mais.

Mais promissor ainda, o utente poderá apanhar este transporte quando quiser e sem filas de espera, numa das estações construídas para o efeito, deixando assim de estar dependente de horários fixos. Cápsulas à sua espera não faltarão.

Perante estas promessas futuristas, será que está aqui o adeus ao stress nos automóveis e nos transportes públicos?

…e a obra nasce

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A zona turística da Rotorua, na Nova Zelândia, acabou por se tornar a montra ideal para mostrar e dar a experimentar a tecnologia do Shweeb. Apesar de ainda só ser usado por quem procura o turismo de aventura, a verdade é que a reacção das pessoas será importante para aperfeiçoar a tecnologia para um ambiente urbano. O galardão conferido pela Google servirá para ajudar esta ambição.

A aerodinâmica e os mecanismos do Shweeb foram concebidos de modo a maximizar a sua eficiência, eliminando as fontes de atrito, pelo que pedalar pelos monocarris não custa quase nada. Deste modo, e tal como Barnett explica, uma pessoa média consegue, facilmente, manter uma velocidade de 20 a 30 quilómetros por hora ao longo de um extenso período de tempo. Como alternativa, poderá usar-se electricidade para fazer mover a cápsula, pelo que nem tudo terá de estar dependente do esforço humano. O objectivo não é, portanto, fazer os seus utilizadores suarem.

A construção do primeiro sistema de transporte público com a tecnologia do Shweeb vai ser uma realidade, com a local da sua instalação a ser anunciado muito em breve.

A grande dúvida passa por saber se este projeto, na sua componente de transporte urbano, poderá ser aplicável, em larga escala, às grandes cidades. Por agora, qualquer resposta a esta pergunta é prematura, apesar de existirem questões importantes que carecem de respostas certas e rápidas.

Por exemplo, o que fazer com uma população urbana que é cada vez maior, a nível mundial? Em 1950 o número cifrava-se nos 700 milhões de habitantes (30% da população mundial), em 2010 chegou aos 3,5 mil milhões (50%), para 2050 estima-se que alcance os 6,4 mil milhões de pessoas (70% a viver nas cidades). Ou seja, como será que se deslocarão os habitantes das hiperpovoadas cidades do futuro?

Talvez a solução consista em flutuar (Shweeb) pelos céus de cidades como Nova Iorque, Londres ou Tóquio.

Texto: João Lobato

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