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Trip All 4 Mountain Chapada Diamantina - Por Péricles Maia

A Chapada Diamantina é um dos lugares mais incríveis do Brasil para quem gosta da vida outdoor, instiga turistas de todos os estilos, aventureiros de vários níveis e, claro, é um lugar perfeito para pedalar e se encontrar com sua paz interior.

Péricles Maia, parceiro do Pedal.com.br não pensou duas vezes quando a oportunidade surgiu. Montou todo o esquema e partiu numa trip solo para a Chapada Diamantina durante sete dias. Confira relato!

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Morro do Pai Inácio

Ideia, Preparação e convicção

Eu já tinha sonhado com esta viagem há alguns anos, ela ficou por cerca de 6 anos sendo amadurecida e no momento certo a luz se ascendeu e tudo se encaixou. Parece mais uma história de alguém que precisa se encontrar e parte sozinho para esta busca. Não foi muito longe disso, a escolha foi intencional: aumentar o desafio, limpar a mente e fluir por novas ideias. Ainda de quebra, curtir o Festival de Jazz do Vale do Capão.

Peguei a estrada não apenas como um mountain biker, mas como um montanhista que pensou em explorar ao máximo o potencial da Chapada Diamantina, um lugar ainda inédito para mim. Levei na mochila sapatilhas de escalada, chalkbag, slackline, botas de caminhada, além dos itens para uma viagem auto-suficiente. Fora da mochila fui levado pela minha fiel companheira: a bike. Caminhada, escalada, slackline e bike: quatro elementos, para explorar toda a montanha. E assim começou a Trip All 4 Mountain.

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Primeiro Dia: Itaberaba – Lençóis

Embarquei na rodoviária de Salvador para Itaberaba, meu destino de partida no pedal. Desembarquei 1 da manhã, preparei a "cama", dormi até as 5 da manhã, tomei um café e partir pela BR-242 em direção a Brasília. Eu pretendia vencer os 176km em 10h de pedal, e assim fui curtindo a aurora, curtindo o frio e já sentindo o peso de pegar o asfalto com pneus 2.10 de MTB.

Eu já sabia que iria enfrentar ladeiras gigantes, só não esperava tantas. Pedalei os primeiros 60km até o Zuka, primeira povoado depois de Itaberaba, uma ladeira de aproximadamente 8km antecede este povoado. Se você espera por um bom café no Zuka, se alimente bem antes de enfrentar este trecho, e depois desfrute do café da Dona Célia no posto de gasolina, cuscuz com ovo, carne, farofa, bolo e café com leite, é o combustível para os 116km restantes!

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O rolê fluiu intenso até meio dia, entre subidas e descidas encontrei pessoas interessantes na estrada, e abro parênteses para falar de Itamar e Eliomar.

"Itamar e Eliomar, duas crianças que chamaram a minha atenção na estrada, estava brincando com badogue (estilingue) próximo a uma casa de taipa bem simples, e quando passei, chamaram por mim e disseram, " Ei tio, têm mais contigo?", surpreso parei e respondi, "Estou sozinho, porque ?", eles responderam, "Nós adoramos ver os homens de bicicleta passando, é muito bom". Aí começou a lição, eles começaram a falar que a vida deles é brincar ali, jogar bola e estudar, e me disseram, "Tio, não pare não, siga forte a sua viagem, é difícil, mas tenha força".

No final, eles me pediram um trocado para o lanche na escola, dei dois reais, o olho de Itamar brilhou, e agradeceu com um sorriso maior do que minha fome de pedal, parecia que estavam recebendo R$ 200,00.

Lição: Saia da sua zona de conforto para entender o que é o mundo, o que é o amor, o que é a paz! Sem me conhecer eles me incentivaram como ser humano, como referência, me apoiaram sem nem perceber se eu estava fraco ou não, se era rico ou não, se tinha algo a oferecer ou não. Viva simples e viva em paz!



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Depois de almoçar sardinha com farinha e energético, tirei um belo cochilo na beira da estrada, e que me fez pedalar com um gás incrível, para vencer agora os 70km restantes. Próximo das 4h da tarde, cheguei a Tanquinho, distrito de Lençóis, 21km restantes. Eu já não sabia se eu estava levando meu corpo ou meu corpo me levava, exausto cheguei em Lençóis após 12h de pedal. O sentimento que me tomou foi indescritível, superação, alegria, sofrimento, até um pouco vertigem num feito que para minha limitação foi grandioso e custei a acreditar que tinha conseguido.

Lençóis é simplesmente bucólica, cidade colonial, com fortes traços da cultura afro, e agitada pelo forte apelo turístico. Se você quer ficar em pousadas, reserve antes, se preferir camping, é mais tranquilo, mas não custa conferir. Passei a noite no Camping Primavera, uma família super simpática e acolhedora!

Segundo Dia: Lençóis - Vale do Capão

Após encontrar dois amigos do México que também estavam pedalando pela Chapada, Rosalia e seu filho Diego, marcamos de sair para o Vale do Capão pela trilha. Decidimos ir apenas eu e Diego, enfrentando aproximadamente 60km de trilha, sem guia, apenas com mapa e informações de nativos, (não recomendo a viagem sem guia, a não ser que você tenha muita experiência em montanhismo).


Partimos as 11:00h, seguindo em direção ao cemitério e povoado do Barro Branco, uma subida de aproximadamente 5km até começar a descer e entrar na trilha. Nos perdemos nesse ponto, não é difícil, mas a instiga da descida nos fez passar direto do ponto.

Continuamos pela trilha que logo se transformou num rock garden gigantesco, subidas super técnicas, e descidas alucinantes em escadarias naturais, águas que brotavam das pedras, e cachoeiras por todo o caminho, uma beleza incrível.

O mais emocionante é no meio da subida entre a montanhas se avistar o Morro do Pai Inácio. Ai está um ponto crucial. Existe um Boulder no lado direito (entre milhares que podem se encontrados na Chapada), logo calcei as sapatilhas, magnésio nas mãos e a diversão foi garantida num paraíso de escalada com vista para um dos mais belos cartões postais da Chapada.

Seguimos em direção ao Pai Inácio, logo que se chega próximo do morro, antes da ponte do Rio Mucugêzinho, pegamos a direção oeste, para avistar o Monte Tabor ou Morrão. Ai começou o perrengue.

Lama, chuva, frio, e começou a cair a noite, sem guia, sem pontos de referência por conta do volume de nuvens, e sem conhecer a trilha. Enfrentamos uma sensação térmica de quase 5ºc, além de uma leve sensação de perdidos, o que é pior (esteja preparado para o frio e para situações adversas). Até cogitamos dormir no "mato" se continuássemos por mais 3 horas e não tivéssemos certeza do caminho. Como a viagem foi auto-suficiente, estávamos preparados para isso. Mas, a experiência é importante nessas horas, apagamos as lanternas e procuramos por foco de luz no horizonte, como estávamos na direção certa, seguimos pela trilha até encontrar uma estrada vicinal que levava direto ao vale do Capão, um lugar de beleza ímpar. Chegamos vivos, exaustos e felizes após 10h de pedal.

Terceiro dia - Trekking Poço Angélica - Cachoeira da Purificação

Acordar de frente para as montanhas e uma bela cachoeira é indescritível, mais um dia chuvoso, e encontro dois novos amigos, Shelby e Davu dos EUA e Suíça. Pegamos a trilha para o Poço Angélica e Cachoeira da Purificação, um trekking de aproximadamente 2h (subindo), atravessa-se três trio até chegar às águas geladas do Poço Angélica, muito bom para nadar, com alguns boulder ("psicoblokc") e claro considerada a água mais gelada da chapada. É realmente para purificar a alma nadar na Cachoeira da Purificação.

A noite começou o Festival de Jazz do Capão, os melhores nomes do estilo no Brasil e América Latina estavam lá para animar um público seleto, de bom gosto e de cultura riquíssima. Foram turistas de várias partes do mundo além, de muitos brasileiros esquentando o frio com muita música boa.


Quarto Dia - Trekking Cachoeira Rodas e Rio Preto

Acordarmos por volta das 09:00, e fomos direto para o mapa. Pronto, roteiro definido, partimos para as Cacheiras Rodas e Rio Preto, duas belíssimas quedas d'água a 2 horas de caminhada por uma trilha muito divertida que pode ser feita de MTB também (apenas deve-ser ter o cuidado com os caminhantes). Chegando na Rio Preto foi o paraíso, descobri que boulders era o que não faltava, partir para a exploração e claro, muita diversão nas rochas dentro da água.

O último dia do Festival de Jazz do Capão movimentou ainda mais a vila. Nomes como Gabriel Grossi e João Bosco fizeram a noite badalada com música boa. Um salve também para os artistas locais, o Coral do Capão, crianças e adultos misturaram a musicalidade baiana, com música clássica, pitadas de samba, reggae e muita energia positiva.

Quinto Dia - Vale do Capão - Palmeiras - Iraquara

Deixar o Capão não é uma tarefa fácil. Subir os quase 5km de ladeira para sair do vale, olhar para trás e ver toda a beleza, magia e encanto do Capão, só é compensada pelos quase 40 minutos de descida até a cidade de Palmeiras. Regule os freios, calibre os pneus, solte o som e curta uma descida alucinante por uma estrada de terra batida, com o visual das belas montanhas da Chapada.

Chegando em Palmeiras uma pausa para repôr as energias, conversar com os nativos, pegar algumas informações sobre o trajeto, atualizar o facebook (no Capão não há sinal de celular) e partir para Iraquara, a cidade das grutas.

Peguei asfalto novamente, um trecho bem plano e reto até Iraquara, um pedal divertido durante uma media de 3h. Assim que cheguei fui em busca do meu amigo "Jackson Calango", amigo dos tempos de faculdade e república, e guia das grutas. Pizza, lembranças e resenhas.

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Sexto Dia - Gruta Torrinha - Morro do Pai Inácio

Para minha sorte meu amigo "Calango" mora praticamente na entrada da Gruta Torrinha, uma das mais famosas da Chapada, com 14km de extensão. Equipamentos prontos, entramos na gruta, foi a minha estréia, uma sensação louca de paz e tranquilidade, o único barulho que se ouve são dos nossos passos. Estalactites, Estalagmites, Flor de Aragonita, Vulcões de Argila, Sílica, e milhares de anos encravados nas rochas e em cada detalhe da gruta.

Estar a aproximadamente 80m abaixo do solo é entender a inferioridade humana diante da natureza, toneladas de rochas calcárias, argila e muitos outros minerais nos mostram que a vida é lenta e perfeita, a nossa pressa é que estraga tudo. Preserve!

A tarde partimos para o último destino da Trip, o Morro do Pai do Inácio, seria o último desafio, a última lembrança e o último fôlego. Vale lembrar que é proibido praticar MTB no Morro do Pai Inácio, mas, conversamos com o "guardião" e ele nos permitiu subir apenas para fazer as fotos no topo. Um sacrifício de carregar a bicicleta por mais de 300 metros de escalaminhada, que é recompensado por todo o visual e adrenalina que o Pai Inácio proporciona.

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Fiz um "releitura" de Cris Santos fazendo bike trial no mirante do Pai Inácio, apenas uma brincadeira para tentar sentir a mesma adrenalina e talvez vertigem!

E para finalizar, o pôr do sol perfeito fazendo um downhill do topo do Pai Inácio até a base onde se encontra a BR-242, uma descida alucinante que cravou na memória as lembranças de uma Trip que me fez evoluir, crescer e reviver fatos, emoções e planos que ao longo da vida deixamos que se percam.

"A estrada nos ensina que para ser forte, é preciso se humilhar, que para ser o maior, é preciso antes ser o menor, que para vencer, é preciso perseverar"!

Agradecimentos: Minha família e amigos pelo apoio e orações, a Diego da Rodoviária de Itaberaba pela força no lanche, a Diego Mur pela parceria na trilha do Capão, a Shelby e Davu pela companhia no Trekking, a Sabina Vila pela hospedagem, a Jacson Calango por todo o suporte e logística em Iraquara e Pai Inácio, ao Pedal pelo apoio, e a Deus, a minha gratidão eterna por ser o companheiro infalível durante todos os momentos.

Os passeios de trekking, MTB e aventuras verticais como escalada e rappel podem ser realizados com segurança através de algumas agências de turismo outdoor da região. Confira algumas.

Vertical Trip - http://www.verticaltrip.com.br/
Fora da Trilha Escalada - http://www.foradatrilha.com.br/
Terra Chapada Expedições - http://www.terrachapada.com.br/

O Pedal não se responsabiliza por nenhuma ação ou indicação de roteiro e guias nesta matéria. O conteúdo e forma de realização desta viagem é de livre escolha do autor de forma independente.

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