Quem vinha acompanhado as notícias do PEDAL antes do PAN, sabe que a nossa previsão do pódio na categoria feminino deu certo. Infelizmente.
Com a frustração da medalha perdida na prova feminina, o público esperava uma reação na categoria masculina. Criava-se então, uma grande expectativa em torno de Ricardo Pscheidt e Rubens Donizete.
Os brasileiros queriam mostrar trabalho. Mostrar porque foram convocados! Enfim, honrar a modalidade nacional tão “sofrida” e amada por todos nós.
Confiram tudo que rolou agora!
:: Prévia da largada
Os atletas brasileiros também ficaram tristes com a quarta colocação de Jaque. Isso pesou mais ainda na responsabilidade de conseguir alguma medalha de qualquer maneira para o país. Numa entrevista concedida ao PEDAL na quinta-feira antes da prova, eles comentaram da estratégia que aplicariam.
Um boato surgiu nos boxes de que a suspensão de Rubinho estava com problemas, mas foi apenas um boato. O circuito exigia uma catraca de 11-34 e os brasileiros mexeram nas bikes.
Durante o aquecimento, o público aproveitou para tirar fotos e dar boa sorte aos brasileiros.
Aquecidos, Pscheidt e Rubinho chegaram na linha de largada e se posicionaram com os demais. Pelas regras da UCI (União Ciclística Internacional), os primeiros da fila eram os que tinham mais pontos no ranking. Sendo assim, iríamos largar junto com os americanos e canadenses.
::Primeira volta
Dada a largada, os brasileiros assumiram a ponta com um sprint espetacular: Pscheidt na frente. Até a primeira volta do “start loop” (duas voltas de aquecimento num circuito menor) , Rubinho era o novo líder. Mas logo na segunda volta, o americano Adam Craig, assumiu a liderança.
A famosa estratégia feita pelos brasileiros era fazer com que os dois pedalassem juntos se revezando. Caso não desse certo, um seguraria o pelotão enquanto o outro fugia. Quando completaram a segunda volta do start loop, a trilha foi aberta e eles enfrentaram a subida íngreme.
Adam e Rubinho adiantaram. Pscheidt travou a subida. Os demais vinham atrás. A galera foi a loucura. O brasileiro fazia uma perseguição implacável no americano dentro do íngrime single track. Um show de cross-country digno de pagar duplo ingresso.
A diferença de Craig para Rubinho na primeira parte do percurso girava em torno de 6 a 9 segundos. Na segunda parte aumentou para 14 segundos. Pscheidt vinha brigando forte com pelotão. O mexicano levou um tombo.
::Segunda volta
O mexicano Carlos Manuel Hernandez desiste da prova. Perguntamos para ele qual motivo? “Sou atleta de pista. Competi apenas para conseguir alguns pontos da UCI”.
Adam Craig era o líder com uma pequena diferença para Rubinho: 20 segundos. O trabalho que Pscheidt vinha fazendo estava tão bom, que quando o pelotão passou, tinha 2 minutos de diferença. Incrível!
A briga estava boa pelo terceiro lugar: brasileiro, venezuelano, argentino e dois colombianos. Como uma manada que atropela tudo que vê pela frente, o pelotão trocava de posições diversas vezes.
Em alguns momentos, Pscheidt ficava em último no bloco, mas sempre retomava a liderança. A pressão era muita. Os dois colombianos estavam tentando fazer o mesmo com ele: sem sucesso. Durante todo percurso, o público gritava, incentivava e monitorava o catarinense, que fazia uma prova maravilhosa.
Ao longo da segunda volta, os dois primeiros colocados não eram pressionados.
::Terceira volta
O canadense Ricky Federau quebra a bike e desiste da prova. Mais tarde o costa riquenho Deiber Esquivel também desiste da competição.
A mesma ordem seguia. Só que a diferença de Rubinho aumentava para 30 segundos, em relação a Adam. O pelotão também começava desmanchar. O venezuelano Franklin Lugo surpreendia e era o terceiro colocado, com poucos segundos do pelotão.
Parecia que a corrida levava outro rumo, mas quando chegou no trecho da subida íngreme, o pelotão atropelou o venezuelano. Ainda não tinha como fazer uma previsão do que poderia acontecer. Todos tinham chances naquele momento.
Um fato curioso sobre os dois primeiros colocados:
Adam Craig subia muito bem. Com isso ele aumentava cerca de 5 a 8 segundos até o segundo trecho da prova. No terceiro trecho - na descida - o brasileiro surpreendia e tirava novamente a diferença. Em alguns momentos, ele chegou a bater o tempo com 10 segundos.
::Quarta volta
Rubinho continuava fazendo a sua perseguição, mas o americano mantinha a consistência da pedalada nas subidas.
O pelotão recebe um novo “amigo”: Mathieu Toulouse; o canadense que substituiu Geoff Kabush. A corrida começa ficar emocionante. E o público preocupado com Pscheidt, que recebera essa pressão.
As atenções mudavam de rumo completamente. Todos queriam saber a colocação do catarinense. Tinha momentos quem ele estava frente, outros bem atrás. Isso atrapalhava bastante em todos os trechos do circuito. Não tinha como mostrar reação e até mesmo fazer uma fuga.
::Quinta volta
O colombiano John Jairo Botero Salazar sai da prova por problemas mecânicos. Adam era o líder. Rubinho mantinha a mesma média em relação a tempo anterior.
O mexicano Ignácio Torres puxa o pelotão na subida extensa. Pscheidt vem no bloco, mas é prejudicado no corredor de árvores. Esse momento é registrado no vídeo. A galera vai a loucura incentivando o brasileiro: “Vamos Pscheidt...”
O argentino Dario Alejandro Gasco mostra reação e vem junto com o pelotão. O catarinense é o primeiro a entrar no terceiro trecho do circuito: a descida.
::Sexta volta
A primeira e segunda colocação ainda estavam certas. Mas a grande surpresa aparecia na terceira colocação: Ricardo Pscheidt; que vinha sozinho. O brasileiro desbancava os gringos naquela altura da competição. A pressão era forte.
O pelotão formado por: Dario Alejandro, Ignácio Torres, Mathieu Toulouse; só passou depois de 21 segundos. O trio vinha pedalando forte e se revezando para alcançar o brasileiro. Já que ainda restavam praticamente duas voltas.
E no final da subida extensa, aconteceu o inesperado: Pscheidt é alcançado por eles.
Adam Craig e Rubens Donizete não recebiam ameaças. Ambos pedalavam para o final da volta em suas respectivas colocações.
:: Sétima e última volta
A diferença do brasileiro para o americano era de 48 segundos.
Registrados, os líderes seguiam tranqüilos. Mas era visível o desgaste deles na subida íngreme e boa parte do single track. O peso da possível medalha já atrapalhava.
O pelotão passou no registro da última volta da mesma forma da volta anterior: Dario Alejandro, Ignácio Torres e Ricardo Pscheidt.
O que todos não esperavam aconteceu! A disputa para ser o primeiro na subida íngreme custou caro para o brasileiro. Ele bateu na bike do argentino e caiu; dando brecha aos demais. Pscheidt levantou e prosseguiu empurrando a bike.
Outro problema para o Brasil. Rubinho pára na subida extensa com fortes dores nas pernas. O brasileiro entra em desespero. As poucas pessoas que estavam neste local começam incentivá-lo: “Vamos Rubinho, continua...” O brasileiro pensa duas vezes em desistir. O terceiro colocado poderia aparecer a qualquer momento. Naquele momento, a medalha de prata estava indo embora. Emoção total!
Pelas regras da UCI, ninguém pode tocar no atleta quando tiver algum problema na pista. Se não, ele é desclassificado. Então, a galera manda jogar água nas pernas de Rubinho, pede para que ele faça massagem, etc. Pressionado a continuar, o mineiro sai mancando e empurrando a bike em busca da conquista da medalha de prata. Para alegria geral da nação.
Esse momento espetacular foi flagrado pela equipe PEDAL. Confiram o vídeo exclusivo no final no texto!
O pelotão começava a se separar e o argentino se destaca.
Adam Craig termina a prova em 2:05.21s. Num total de 43.7km com a média de 21.180km/h. Pela lógica, era para Rubinho vir depois de uns 40 segundos.
Já se passavam mais de um minuto e nada do brasileiro. Então, o desespero tomou conta dos espectadores. Até que a medalha de prata surge ao longo do caminho. Como se fosse uma miragem, o brasileiro aparece e a galera vai ao delírio. Era a segunda medalha de prata do país naquele dia.
Antes mesmo de cruzar a linha de chegada, o público gritava o seu nome. Rubinho é ovacionado pelo público e centenas de fotógrafos, repórteres e câmeras. Merecido!
Restava saber quem levaria o bronze. O tempo passava e o público aguardava o próximo atleta. Por ironia do destino, o argentino cruza a linha. O mexicano aparece em quarto.
O quinto colocado foi Ricardo Pscheidt. A prata também é dele. Grande atitude ter segurado os outros competidores por um bom tempo. Sua prova foi extraordinária. Batalhou muito. Sem comentários.
Resultados:
1º Adam Craig (USA) 2.05.21
2º Rubens Valeriano (Bra) +1.47
3º Dario Alejandro Gasco (Arg) +2.16
4º Ignácio Torres (Mex) +3.16
5º Ricardo Pscheidt (Bra) +4.26
6º Mathieu Toulouse (Can) +4.31
7º Javier Puschel (Chi) +10.13
8º Franklin Lugo (Ven) +10.57
9º Paolo Montoya (CRi) +11.18
10º Luciano Ariel Caraccioli (Arg) +13.54
11º Cristobal Silva (Chi) +19.08
12º Mario Alberto Rojas (Col) +20.11
Faltavam completar 4 voltas:
13º Yamil Montano (Bol)
14º Gustavo Mino (Par)
15º Guillermo Miranda (Pan)
Faltavam completar 5 voltas:
16º Ignacio Morales (Uru)
17º Heiko Grobenstieg (Par)
18º Alberto Maizares (Bol)
Não completaram a prova:
John Jairo Botero Salazar (Col)
Deiber Esquivel (CRi)
Ricky Federau (Can)
Carlos Manuel Hernandez (Mex)
Veja a segunda parte do vídeo no link abaixo:
https://www.pedal.com.br/videos/video-exibir.asp?id=518
Agradecimentos: Fabrício (FAB1000) por algumas filmagens!
Fotos (58)
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